"Não há verdade em comédias românticas"
Entrevista com Marc Webb, diretor de 500 dias com ela, filme que virou cult e já arrecadou mais de seis vezes o custo de seu orçamento de US$ 7,5 milhões
Mariana Shirai
ÉPOCA – Por que contar uma história que não dá certo?
Marc Webb - Eu acho que dá certo. Isso é uma coisa interessante, temos muitas suposições sobre como as histórias de amor devem ser. Mas, pessoalmente, parei de ver comédias românticas, talvez porque eu não snta que me relaciono com elas. Eu não sinto que há nenhuma verdade ali. Não as acho interessantes, significativas ou empolgantes.
ÉPOCA – O que faz com que você se sinta assim em relação a comédias românticas?
Marc Webb - Sempre acontecem as mesmas coisas: tem um cara e uma garota enlouquecidos por alguém e alguém está fingindo ser o que não é. Ou então ela gosta de gatos e ele de cachorros – como eles algum dia poderiam se dar bem? (risos) E o conflito todo sempre parece poder ser resolvido apenas com uma conversa sincera. Às vezes, são filmes divertidos, mas eu acabo sentindo que não têm muito uso na vida de alguém.
ÉPOCA – Então, por que você resolveu filmar 500 dias com ela?
Marc Webb - Eu me lembro de ler esse script e pensar: “há conversas aqui que eu tive na minha própria vida”. São pessoas jovens e apaixonadas, e eu me lembro de como difícil e inquietante era tentar entender isso tudo. Ninguém havia feito um filme sobre isso. E também foi a primeira vez que eu li um script sobre um relacionamento sobre o ponto de vista do cara. Isso é muito raro. Quando existem, eles acabam virando comédias e os relacionamentos são como uma função obrigatória.
ÉPOCA – A estrutura de flashbacks já estava pronta?
Marc Webb - Já estava no script. É da natureza da memória você não lembrar as coisas de uma maneira linear. A história é contada do ponto de vista de uma pessoa apenas (Tom). Isso me permitiu construir uma realidade a partir de como se sente ao invés de como elas aconteceram objetivamente.
ÉPOCA – Como vocês chegaram aos atores?
Marc Webb - Eu conheci Joseph antes de Zooey e ele foi o primeiro ator que realmente se importou com o script, fez perguntas interessantes, como “porque vocês estão fazendo o filme?”. É uma pergunta simples, mas muito importante e rara de ser feita. Eu conheci Joe e estávamos discutindo qual atriz poderia interpretar Summer. Eu sabia que a dinâmica entre os dois daria certo pelo jeito que ele falava de Zooey. Ele tem muita admiração por ela e os dois são muito amigos.
ÉPOCA – Como um diretor jovem, como foi fazer uma comédia romântica, depois de tudo o que se fez com esse tipo de filme?
Marc Webb - O que eu gosto sobre a história é que é possível explorar tons diferentes e diferentes técnicas. Acho que cineastas em começo da carreira querem se divertir com esses elementos e experimentar novas coisas.
ÉPOCA – Qual a importância da trilha sonora em 500 dias com ela?
Marc Webb - O cara aprendeu lições sobre a vida assistindo a filmes e ouvindo música - a igreja da cultura pop. Acho que ele foi um pouco desorientado por tudo isso. Nós todos somos. E é natural que as músicas que ele gostava fossem incorporadas ao filme. E eu sou um videomaker. Eu sou um grande fã de musicais e por isso tivemos uma cena de dança. A dança pode explicar um sentimento como nada mais pode, é uma comunicação primal.
ÉPOCA – Como você teve a ideia de usar animação feita como se fossem rascunhos de Tom?
Marc Webb - Eu queria que o rascunho virasse um motivo para evocar a carreira de arquiteto de Tom e a ideia de que ele estava construindo algo. Uma maneira visual de mostrar os sentimentos dele.
ÉPOCA – E foi um desafio incorporar tantas técnicas diferentes? Marc Webb - Não tanto, tudo faz muito sentido. Nossa regra era: não fazemos nada apenas por fazer. A história tinha que comportar.
ÉPOCA – E o visual retrô, de onde saiu?
Marc Webb - Queríamos dar um ar de conto de fadas, de algo antigo. Filmamos em prédios clássicos, não há nenhuma locação no filme que tenha arquitetura antes de 1960. E tiramos todas as cores primárias do figurino. A cor azul é associada a Summer, a única cor primaria que compõem as cenas. De modo que quando se tira Summer de cena, sentimos sua ausência. Nada deveria ser novo nesta história, tudo deveria parecer pálido e usado. Como uma história num livro que ficou guardado numa estante por 20 anos.
ÉPOCA – Por que filmar como se fosse um conto de fadas?
Marc Webb - Acho que a noção do amor para Tom tem um tom de conto de fadas um pouco datado. A visão de Tom é ultrapassada, sua ideia de amor é profundamente romântica. Nós não pensamos assim, pode-se fingir que sim, mas as pessoas são muito cínicas. Na verdade, elas são maduras. É engraçado, quando eu era mais novo, o amor era a coisa mais importante para mim, me lembro de me sentir arrebatado e ferido com as desilusões. É até divertido pensar agora, mas na época não era bonitinho, realmente machucava. E aí, comecei a fazer vídeos para que essa energia se liberasse.
O motivo de eu ter coloado esta entrevista é simplesmente por causa da resposta da última pergunta. Smplesemente é a verdade.
Entrevista com Marc Webb, diretor de 500 dias com ela, filme que virou cult e já arrecadou mais de seis vezes o custo de seu orçamento de US$ 7,5 milhões
Mariana Shirai
ÉPOCA – Por que contar uma história que não dá certo?
Marc Webb - Eu acho que dá certo. Isso é uma coisa interessante, temos muitas suposições sobre como as histórias de amor devem ser. Mas, pessoalmente, parei de ver comédias românticas, talvez porque eu não snta que me relaciono com elas. Eu não sinto que há nenhuma verdade ali. Não as acho interessantes, significativas ou empolgantes.
ÉPOCA – O que faz com que você se sinta assim em relação a comédias românticas?
Marc Webb - Sempre acontecem as mesmas coisas: tem um cara e uma garota enlouquecidos por alguém e alguém está fingindo ser o que não é. Ou então ela gosta de gatos e ele de cachorros – como eles algum dia poderiam se dar bem? (risos) E o conflito todo sempre parece poder ser resolvido apenas com uma conversa sincera. Às vezes, são filmes divertidos, mas eu acabo sentindo que não têm muito uso na vida de alguém.
ÉPOCA – Então, por que você resolveu filmar 500 dias com ela?
Marc Webb - Eu me lembro de ler esse script e pensar: “há conversas aqui que eu tive na minha própria vida”. São pessoas jovens e apaixonadas, e eu me lembro de como difícil e inquietante era tentar entender isso tudo. Ninguém havia feito um filme sobre isso. E também foi a primeira vez que eu li um script sobre um relacionamento sobre o ponto de vista do cara. Isso é muito raro. Quando existem, eles acabam virando comédias e os relacionamentos são como uma função obrigatória.
ÉPOCA – A estrutura de flashbacks já estava pronta?
Marc Webb - Já estava no script. É da natureza da memória você não lembrar as coisas de uma maneira linear. A história é contada do ponto de vista de uma pessoa apenas (Tom). Isso me permitiu construir uma realidade a partir de como se sente ao invés de como elas aconteceram objetivamente.
ÉPOCA – Como vocês chegaram aos atores?
Marc Webb - Eu conheci Joseph antes de Zooey e ele foi o primeiro ator que realmente se importou com o script, fez perguntas interessantes, como “porque vocês estão fazendo o filme?”. É uma pergunta simples, mas muito importante e rara de ser feita. Eu conheci Joe e estávamos discutindo qual atriz poderia interpretar Summer. Eu sabia que a dinâmica entre os dois daria certo pelo jeito que ele falava de Zooey. Ele tem muita admiração por ela e os dois são muito amigos.
ÉPOCA – Como um diretor jovem, como foi fazer uma comédia romântica, depois de tudo o que se fez com esse tipo de filme?
Marc Webb - O que eu gosto sobre a história é que é possível explorar tons diferentes e diferentes técnicas. Acho que cineastas em começo da carreira querem se divertir com esses elementos e experimentar novas coisas.
ÉPOCA – Qual a importância da trilha sonora em 500 dias com ela?
Marc Webb - O cara aprendeu lições sobre a vida assistindo a filmes e ouvindo música - a igreja da cultura pop. Acho que ele foi um pouco desorientado por tudo isso. Nós todos somos. E é natural que as músicas que ele gostava fossem incorporadas ao filme. E eu sou um videomaker. Eu sou um grande fã de musicais e por isso tivemos uma cena de dança. A dança pode explicar um sentimento como nada mais pode, é uma comunicação primal.
ÉPOCA – Como você teve a ideia de usar animação feita como se fossem rascunhos de Tom?
Marc Webb - Eu queria que o rascunho virasse um motivo para evocar a carreira de arquiteto de Tom e a ideia de que ele estava construindo algo. Uma maneira visual de mostrar os sentimentos dele.
ÉPOCA – E foi um desafio incorporar tantas técnicas diferentes? Marc Webb - Não tanto, tudo faz muito sentido. Nossa regra era: não fazemos nada apenas por fazer. A história tinha que comportar.
ÉPOCA – E o visual retrô, de onde saiu?
Marc Webb - Queríamos dar um ar de conto de fadas, de algo antigo. Filmamos em prédios clássicos, não há nenhuma locação no filme que tenha arquitetura antes de 1960. E tiramos todas as cores primárias do figurino. A cor azul é associada a Summer, a única cor primaria que compõem as cenas. De modo que quando se tira Summer de cena, sentimos sua ausência. Nada deveria ser novo nesta história, tudo deveria parecer pálido e usado. Como uma história num livro que ficou guardado numa estante por 20 anos.
ÉPOCA – Por que filmar como se fosse um conto de fadas?
Marc Webb - Acho que a noção do amor para Tom tem um tom de conto de fadas um pouco datado. A visão de Tom é ultrapassada, sua ideia de amor é profundamente romântica. Nós não pensamos assim, pode-se fingir que sim, mas as pessoas são muito cínicas. Na verdade, elas são maduras. É engraçado, quando eu era mais novo, o amor era a coisa mais importante para mim, me lembro de me sentir arrebatado e ferido com as desilusões. É até divertido pensar agora, mas na época não era bonitinho, realmente machucava. E aí, comecei a fazer vídeos para que essa energia se liberasse.
O motivo de eu ter coloado esta entrevista é simplesmente por causa da resposta da última pergunta. Smplesemente é a verdade.
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