quarta-feira, novembro 30, 2016

você só descobre que se deu mal quando mensagens e convites param de chegar ao celular

lI ESTA POSTAGEM DO IVAN mARTINS HOJE E NÃO RESISTI. BATEU FEITO FLECHA....

Queira ou não, gente solteira vive em processo seletivo. Não estou falando de emprego e trabalho, mas de afeto. Somos testados e julgados por possíveis parceiros todo o tempo. Estão em jogo nossa aparência, nossa personalidade e – claro – nosso desempenho dentro e fora de casa.
Ao contrário das disputas por emprego, na vida amorosa a gente nem sempre sabe que está numa competição. Você sai com alguém duas ou três vezes, acha que não tem mais ninguém na área, mas tem. Entre vocês dois, tudo vai bem, mas, para seu azar, com outra pessoa vai ainda melhor.
É por isso que a figura desaparece de quinta-feira a sábado, e só volta a chamar no domingo. Estava testando mais gente.
Como o processo seletivo é secreto – ou pelo menos privado –, você só descobre que se deu mal quando mensagens e convites param de chegar ao celular. Ou quando topa com seu quase amor na rua, de mãos dadas com alguém. É dramático, mas acontece. Fazer o quê?
Se acontecer com você, não se deixe abater. Assim como na busca por emprego – e muito mais ainda neste caso –, a culpa da recusa, definitivamente, não é sua. Você não sabe quais são as qualificações necessárias nesse processo. Não tem ideia do que o outro deseja. Nem está claro se a vaga é temporária, fixa ou mera cobertura de férias. Mesmo que queira muito agradar, não saberá como fazer. A situação está fora do seu controle.
Digo essas coisas porque já recusei e fui recusado. Já selecionei e fui selecionado. Sei como é.
Quando a pessoa escolhe outro, nos machuca. Mas a gente sabe, por também já ter preterido um monte de gente, que não houve uma gincana de qualidades. Não se trata de que a Fulana é mais bonita, ou mais desenvolta no sexo, ou mais divertida. É um problema de interação. O que funciona com um não funciona com outro. O que emociona um não emociona o outro. Aquilo que faz um rir, o outro não entende.
A gente tem com algumas pessoas momentos maravilhosos. Com outras a conversa é boa e os gostos se parecem. Há gente cujo jeito nos enternece. Ainda assim, não rola. A magia não acontece. E o processo seletivo continua. Por quê?
Beleza, personalidade e sucesso pessoal entram na balança, mas há coisas impossíveis de mensurar que aproximam ou afastam na mesma proporção. As coisas que nos apaixonam são da ordem do invisível.
Por que você fica mais à vontade com uma pessoa do que com outra?
Por que o sexo com alguém é mais intenso do que com outro alguém?
Por que uma personalidade nos atrai e outra nos deixa indiferente?
Por que uma beleza nos cativa mais que a outra beleza?
Por que os nossos sentimentos crescem na direção de um ser humano e não de outro?
Ninguém sabe responder a essas perguntas, mas todo mundo sabe quando está encantado por alguém. Nessas ocasiões, a atração vai além do sexo e das qualidades sociais. A química corporal se manifesta, mas não só. Há uma conexão subjetiva que se cria num caso e não se cria no outro. Inexplicavelmente.
Eu lembro, faz muito tempo, de estar envolvido com uma mulher que me fazia mal. Nos intervalos da conflagração que era o namoro com ela, eu tentava encontrar outras pessoas, mas falhava. Aparecia gente mais legal, mais atraente e mais sensual do que aquela que me fazia sofrer, mas o laço estava atado com ela. Foi preciso viver a situação para me libertar. Descobri que paixão e atração podiam ser forças negativas.
Há vagas que a gente nunca deveria aceitar – mas isso só se descobre depois. 
É bom ter em mente que o processo não é indolor para ninguém. Quem escolhe um parceiro no processo seletivo parece ter poder, mas está submetido a forças internas que não controla. Quem está sendo testado pode sentir-se humilhado, mas há prazer em sujeitar-se a quem nos emociona.
É arrogância achar que todos têm de nos escolher. É fútil sentir-se ofendido por não ser amado. É tolo acreditar que ao longo da vida ninguém vai nos colocar de joelhos. Faz parte do mundo amoroso a troca de posições de poder: nesta relação eu tenho o controle; naquela, o outro é quem dita o ritmo. Nas duas há música, para quem sabe dançar.
Por isso, eu recomendo paixão e paciência. Não é sensato apressar nossas escolhas. Não é saudável esperar ansiosamente que alguém nos aprove. Enquanto os processos seletivos se desenrolam, vivemos, simplesmente, em uma posição ou em outra. Às vezes, escolhemos. Em outra, seremos escolhidos ou preteridos. A vida segue, e nossa capacidade de amar e ser amado continua intacta. Ou assim deveria ser.

sexta-feira, novembro 18, 2016

Os contos de fadas quase nunca têm mãe





Na relação "mãe e filha" tudo é muito intenso: tanto a dedicação e o carinho, quanto as lutas e os conflitos. No relacionamento da mulher com a figura materna existe uma complexidade psíquica que envolve paixão, fusão, cumplicidade, maternidade, separação, rivalidade, inveja, dependência, cobranças, etc. Nos contos de fadas temos um registro disso, mas não apenas em relação aos conflitos e dificuldades, como também a forma como se desenrolam as soluções dos dilemas entre gerações.
É comum vermos nas heroínas mais famosas como Cinderela, Branca de Neve, A Bela Adormecida e Rapunzel disputas e conflitos com a mãe ou a madrasta. No entanto, é por meio destes desentendimentos que a heroína amadurece e se desenvolve como mulher.
"É comum vermos nas heroínas mais famosas como Cinderela, Branca de Neve, A Bela Adormecida e Rapunzel disputas e conflitos com a mãe ou a madrasta. No entanto, é por meio destes desentendimentos que a heroína amadurece e se desenvolve como mulher."
As histórias que mostram a relação "mãe e filha" nos dizem que a mulher desenvolve sua personalidade e sua identidade, enquanto ser feminino, a partir de sua relação com a mãe. E quando a figura materna é ausente (seja por morte ou ausência de sentimentos), essa mulher acaba desenvolvendo grande insegurança em relação a quem é, caindo muitas vezes na armadilha do animus (lado masculino da mulher) e se igualando a ele. Ao se igualar ao animus, a mulher lesa suas relações, pois esse masculino interior tende a afastá-la de sua própria vida e levá-la à solidão.
Mas, antes de iniciar a análise dessa relação tão delicada, é necessário observar a dinâmica da menina, desde sua infância.
Na primeira infância, a maioria das crianças (tanto meninas quanto meninos) vive em uma relação de identificação arcaica com a mãe. Se observarmos as meninas, pode-se notar que falam com suas bonecas assim como suas mães falam com ela, chegando a imitar a voz da mãe.
Nessa fase, a brincadeira de "ser mãe", feita com as bonecas, impera em boa parte das meninas. Ao crescerem, as que tiveram um modelo de mãe "positivo" costumam imitá-la. De acordo com a psicoterapeuta analítica alemã Marie-Louise Von Franz, isso traduz um sentimento de que a vida decorre em paz e sem conflitos, no entanto, ao mesmo tempo é ruim para o processo de individuação da menina, pois assim ela fica incapaz de tornar real sua diferença em relação à mãe.
Com isso, temos uma incógnita nessa questão: se não há uma mãe por perto a mulher pode ficar insegura em relação à feminilidade, além de virar presa fácil do seu animus. Mas se tiver uma mãe muito boa, pode se tornar apenas uma extensão dela e das outras ancestrais maternas. Como, então, resolver esse impasse?

MALDADE DA MADRASTA INCENTIVA HEROÍNA A AMADURECER

Em geral, os contos de fadas nos quais há uma heroína iniciam-se com o nascimento da princesa e a subsequente morte da mãe, acompanhada da chegada de uma madrasta ou do aparecimento de uma bruxa. Nas histórias famosas como A Branca de Neve e Cinderela, temos o clássico tema da madrasta; em A Bela Adormecida e Rapunzel aparece uma bruxa que persegue a heroína.
Em termos psicológicos, o papel da madrasta e o da bruxa é o de enfatizar o lado negativo da maternidade. Ao perseguir a heroína e quase levá-la à morte, essa mãe negativa dá inicio a uma ação que desencadeia em um desenvolvimento da personalidade feminina mais profunda.
"Em termos psicológicos, o papel da madrasta e o da bruxa é o de enfatizar o lado negativo da maternidade. Ao perseguir a heroína e quase levá-la à morte, essa mãe negativa dá inicio a uma ação que desencadeia em um desenvolvimento da personalidade feminina mais profunda."
Vemos esse tipo de "maldade" materna na natureza. A raposa morde o filhote quando este atinge certa idade e precisa se tornar independente e assumir a sua liberdade. Mães que possuem um instinto materno ainda em bom funcionamento afastam os filhos que se agarram demais a ela, como um animal selvagem. No entanto, vale ressaltar que trata-se de uma maldade instintiva positiva. O que acontece é que atualmente, em nossa sociedade pautada pelo principio do patriarcado, esse comportamento feminino é considerado imoral e por essa razão temos tantos adultos infantilizados e ainda grudados na barra da saia de suas mães.

POR QUE GERALMENTE AS MÃES MORREM NOS CONTOS DE FADAS?

Hoje as mães têm um senso de dever em relação aos filhos muito alto. Elas pensam apenas como a "boa mãe", que mais se assemelha a uma reação do animus da mulher, com suas regras e julgamentos, do que com uma reação adequada e instintiva de seu feminino.
Nos contos de fadas temos a figura da "boa mãe" que dá a heroína lições, amor e calor humano. Em Cinderela, a "mãe positiva" oferece conselhos para a Gata Borralheira ser uma pessoa boa, e quando ela morre cresce uma árvore sobre o seu túmulo, que auxilia a menina. No conto russo A Bela Wassilissa, a mãe morre e deixa como herança para a filha uma boneca que também ajuda a garota. O que esses contos nos dizem é que sempre fica uma herança no espírito da mulher, que provém de sua "mãe boa". A lição disso é que a mãe não deve se preocupar em assumir o lado negativo da maternidade, pois todo o carinho e acolhimento dado à filha lhe servirão de guia em sua jornada, lhe auxiliando.
"O que esses contos nos dizem é que sempre fica uma herança no espírito da mulher, que provém de sua "mãe boa". A lição disso é que a mãe não deve se preocupar em assumir o lado negativo da maternidade, pois todo o carinho e acolhimento dado à filha lhe servirão de guia em sua jornada, lhe auxiliando."
No entanto, essa mãe boa costuma morrer ou desaparecer da narrativa dos contos de fadas. Isso significa que a filha psicologicamente não deve mais se identificar com a figura materna, ainda que a relação essencial positiva entre as duas exista. A "morte" da mãe boa é o início do processo de individuação da mulher.
Os contos de fadas nos mostram que a mulher deve procurar sua forma pessoal e única de viver sua vida. Ela precisa aprender a impor limites entre o que é dela e o que é de sua mãe. A psicoterapeuta Von Franz aponta que, psicologicamente, as mulheres - bem mais do que os homens - tendem a se identificar com os modelos de seu próprio sexo. Por essa razão, a moda, por exemplo, é dirigida de forma massiva para a mulher, pois esta é muito mais voltada para as relações e a necessidade de ser aceita. Por essa razão, mais que os homens, elas mulheres sofrem para se diferenciarem de suas mães e do que a sociedade dita em termos de comportamento e padrão estético.
Na prática clínica, essa fusão mãe e filha é muitas vezes o cerne de conflitos neuróticos de mulheres. A morte da boa mãe nos contos significa muito não só para a filha, mas também para a mulher. E essa perda sugere, simbolicamente, que a mãe deve retirar as projeções que fez em sua filha e assumir sua própria criatividade e poder feminino. Afinal, muitas mulheres projetam aquilo que não puderam ser em suas filhas e assim deixam de viver seu potencial criativo.

MADRASTA SIMBOLIZA RUPTURA NECESSÁRIA COM A MÃE

Nos contos de fadas, a entrada da madrasta e da bruxa que separa a filha da família de origem mostra que essa ruptura é necessária e que a mulher, para seu próprio desenvolvimento, precisa suportar essa projeção da mãe terrível e negativa nela, e não se sentir culpada e péssima mãe no futuro.
Na vida real, a mulher, quando começa a se separar psicologicamente de sua mãe e também de sua família de origem, tende a se tornar irritada e agressiva, passando a ver a figura materna como uma bruxa malvada. Essa agressividade é natural e compreensível, pois ela ainda é inconsciente de sua própria personalidade.
A mãe, ao assumir seu papel negativo - como mostram os contos de fadas na figura da bruxa ou madrasta - não somente auxilia a filha em seu desenvolvimento, como ela mesma se desenvolve e amplia a sua consciência feminina.
"A mãe, ao assumir seu papel negativo - como mostram os contos de fadas na figura da bruxa ou madrasta - não somente auxilia a filha em seu desenvolvimento, como ela mesma se desenvolve e amplia a sua consciência feminina."
A psicoterapeuta Von Franz diz que quando o gérmen mais íntimo da personalidade humana começa a se desenvolver, ele suscita uma irritação no meio em que vive. E essa percepção perturba a ordem instintiva inconsciente da família. Para o psiquiatra Carl Jung, é como se um rebanho de carneiros percebesse que um dos seus membros deseja seguir seu próprio caminho.
Por essa razão, quando o conflito "mãe e filha" se instala, é um momento delicado, mas muito proveitoso, no qual ambas podem parar de projetar seu "Self feminino" uma na outra e assumir a sua individualidade.

CONTOS ENSINAM BENEFÍCIOS DO LADO NEGATIVO DA MATERNIDADE

Os contos de fadas femininos enfatizam que a heroína deve suportar o sofrimento e as dificuldades. Ela não luta com dragões e bruxas malvadas, apenas sofre e se aprofunda na dor e no conflito em busca de autoconhecimento. Essa é a força do feminino que a mulher perdeu na ânsia frenética em busca de realização exterior. É uma atitude de grande confiança na vida, um processo de incubação mesmo.
A experiência com os contos de fadas nos diz que a força motriz para o desenvolvimento feminino é o mal, ou seja, o lado negativo da maternidade. Se uma mulher não passa por esse estágio com sua mãe, ficará um buraco em sua expressão feminina e ela desenvolverá uma profunda insegurança quando for mãe. No momento em que precisar usar a negatividade na relação para que os filhos cresçam, poderá recorrer a livros e receitas engessadas, que lhe dizem que isso é errado e politicamente incorreto. Essa mulher não saberá dizer não aos filhos ou impor limites e, o que é pior, quando quiser fazer isso, será com uma força desnecessária e brutal.
Portanto, resumidamente, os contos de fadas nos dizem que uma mãe deve mostrar seus aspectos negativos para que o filho cresça. Se expor apenas o lado positivo, a cria terá dificuldade em amadurecer.
"Portanto, resumidamente, os contos de fadas nos dizem que uma mãe deve mostrar seus aspectos negativos para que o filho cresça. Se expor apenas o lado positivo, a cria terá dificuldade em amadurecer."
A leitura e a compreensão dos contos de fadas podem resgatar essa verdade psicológica feminina que foi sufocada pelas leis e normas de condutas patriarcais. Ao invés de se culpar, a mulher precisa aceitar a si mesma e também a sua natureza dual. Ao invés de normas de condutas e proibições para as mães, é necessário trazer para as mulheres a educação psicológica, para que ocorra a aceitação de sua sombra feminina e para que ela se torne sua aliada, e não sua inimiga.

Se você já se perguntou alguma vez porque tantas personagens da Disney não tem mãe ou porque a mãezinha querida aparece e logo morre, existe uma explicação muita lógica – e não é só para lhe reduzir às lágrimas.

"Vou lhe contar duas histórias para explicar as razões. Eu nunca converso sobre isso, mas vou falar agora”, disse Don Hahn, produtor executivo de "Malévola" em uma entrevista recente à revista Glamour.

"Uma das razões é bem prática, porque os filmes duram 80 ou 90 minutos, e os filmes Disney tem a ver com crescer e amadurecer. Tem a ver aquele dia na sua vida em que você tem que assumir responsabilidades. Simba fugiu de casa mas teve que voltar. Resumindo, é bem mais rápido as personagens crescer quando os pais não estão na trama. A mãe de Bambi é morta, então ele precisa amadurecer. Bella só tem o pai, mas ele se perde, então ela tem que assumir as responsabilidades. É uma técnica que ajuda a resumir a história”
Hahn, que também trabalhou em clássicos da Disney como "A Bela e a Fera" e "O Rei Leão", ofereceu outra razão mais deprimente e Freudiana para explicar a falta de mães nas histórias da Disney. No começo da década de 40, Walt Disney comprou uma casa para seus pais.
“Ele pediu que os funcionários do estúdio fossem até a casa para consertar o aquecedor, mas quando seu pai e sua mãe se mudaram para a casa, o aquecedor teve um vazamento de gás e a sua mãe morreu”
“A governanta chegou na manhã seguinte e arrastou os pais dele para o jardim na frente da casa. O seu pai estava muito mal e foi levado para o hospital, mas a sua mãe morreu”, disse Hahn.
Segundo Hahn, Disney nunca falou sobre a morte da mãe, e naquela época ninguém fazia comentários sobre o ocorrido. “Ele nunca falou sobre o que havia acontecido porque ele sentia-se culpado por ter alcançado tanto sucesso que o levou a dizer, ‘Deixe que eu compre uma casa para vocês’. Todo filho sonha em comprar uma casa para os pais e por uma fatalidade – da qual ele não teve culpa – os funcionários do estúdio não sabiam como fazer o conserto”, disse Hahn. “Há uma teoria, e eu não sou psicólogo, mas aquilo consumia ele. A ideia de que ele havia contribuído para a morte da mãe era muito trágico”.
E apesar das explicações de Hahn fazerem sentido, outros perguntam se Disney e outros criadores de filmes de animação infantis não teriam “objetivos inconscientes” mais sinistros para não incluírem mães em seus filmes. Em junho desse ano, Sarah Boxer escreveu na revista Atlantic:
Será que o objetivo inconsciente desses filmes sem mães é de mascarar a realidade? Será que querem encorajar os homens a serem mais maternais? Ou quem sabe sugerir que os pais seriam melhores que as mães se tivessem esse chance? Talvez propor que o mundo seria melhor sem mães? Ou pode ser apenas um caso sério do que a psicanalista Karen Horney chama de “inveja do útero”. Ou talvez uma expressão da angústia primordial que a psicanalista Melanie Klein descreve como “as fantasias e pulsões incontrolavelmente invejosas e destrutivas contra os seus da sua mãe”.


 Referências bibliográficas:
  • KAWAI, H. A Psique Japonesa - Grandes temas dos contos de fadas japoneses. São Paulo: Paulus, 2007.
  • VON FRANZ, M. L. O feminino nos contos de fada. Vozes. São Paulo: 2010.

terça-feira, novembro 01, 2016

A importância do amor

Ah, o amor! Tema intrigante e preferido dos apaixonados, é também assunto comum em mesas de bar, livros, pesquisas, nos conselhos entre amigos e em consultórios psicológicos e psicanalíticos. Não por acaso, todos já sentimos um grande amor- seja ele pela mãe, alvo do nosso intenso amor inicial; seja pelo amiguinho da escola, quando ainda nem sabemos definir tal sentimento; aquele amor sofrido que muitas vezes nem é correspondido; e por que não, o amor que nos toma quando entramos em processo analítico, conhecido como amor transferencial? Amamos nossos pais, filhos, irmãos, amigos, companheiros, analistas, mas principalmente, amamos ser amados. 

Freud, em seus textos, muito nos disse sobre o amor. Para ele, a escolha de quem amar tem a ver com repetição. Temos uma demanda de amor que vem desde o início de nossas vidas: precisamos que nossa referencia materna nos transmita seus cuidados e afetos e isso se manterá durante nossas vidas, quando, inconscientemente, repetimos aquela relação primeira em nossos futuros relacionamentos, na busca por felicidade. Também podemos amar baseados em um amor narcisista, quando procuramos alguém que é como somos, como fomos ou mesmo gostaríamos de ser. Ao nos apaixonarmos, idealizamos nosso parceiro, buscando nossas características nele e quando não encontramos surge então a frustração. É preciso ter certo jogo de cintura para entender que o que buscamos é humanamente impossível. Afinal, não existem duas pessoas idênticas. Muitos acreditam no amor romântico, puro. A promessa de felicidade que nos é transmitida nos contos de fada, nos faz ir em busca do nosso verdadeiro amor, uma tentativa de evitar o confronto com a “dura realidade”, o mal estar próprio da condição humana. Amar e ter esse amor retribuído aproxima o sujeito da ilusão de completude. O que a psicanálise nos acrescenta é que nós somos seres faltosos, sempre nos queixaremos de algo, mesmo que nos conformemos com o que conseguimos alcançar. É só observar: não demora muito, já estaremos nos queixando de outra coisa. 


Não podemos esquecer as pessoas que verbalizam que sonham em ter um grande amor, de amizade e confiança mas que tem medo de sofrer uma decepção amorosa. Quando elas se relacionam, ao temer a desilusão, passam então a sabotar a relação tão almejada, chegam a fugir de relações mais sérias e afetuosas a partir de desconfianças sem fundamentos, ciúmes exacerbados, tratando seu companheiro como sua posse, seu objeto. Que sufoco! Isso acontece por uma espécie de resistência do sujeito, na tentativa de evitar a dor de uma possível e temerosa perda. Freud afirmava: “nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor”.


O amor, porém, ainda é um sentimento muito enigmático,que muitas vezes não sabemos definir ou decifrar. Como diria Fernando Pessoa: quem ama nunca sabe o que ama / nem sabe por que ama, nem o que é amar”

segunda-feira, agosto 22, 2016

XENOGLOSSIA

Xenoglossia ou mediunidade poliglota é a faculdade pela qual o médium se expressa, oral ou graficamente, por meio de idioma que não conhece na atual encarnação. 


Xenoglossia (do grego xenom = estranho, estrangeiro + glossa = língua).

Conforme Ernesto Bozzano, pesquisador da metapsíquica, informa, na Introdução de seu livro Xenoglossia, que o termo foi criado pelo fisiologista Charles Robert Richet para identificar o fenômeno no qual pessoas falam em línguas que eles e, geralmente, o público presente ignoram, porém que se tratam de línguas existentes hoje ou que existiram no passado. Richet teve o intuito de distinguir de modo preciso, a mediunidade poliglota propriamente dita, pela qual os médiuns falam ou escrevem em línguas que eles ignoram totalmente e, às vezes, ignoradas de todos os presente, dos casos afins, mas radicalmente diversos, de “glossolalia”, nos quais os pacientes sonambúlicos falam ou escrevem em pseudolíngua inexistentes, elaboradas nos recessos de suas subconsciências, pseudolínguas que não raro se revelam orgânicas, por serem conformes às regras gramaticais.

Graças aos fenômenos de “xenoglossia”, se deve considerar provado que, nas experiências mediúnicas, intervém entidades espirituais extrínsecas ao médium e aos presentes.

Bozzano não ignora que os propugnadores, a todo custo, da origem subconsciente de toda a fenomenologia matapsíquica, por meio das hipóteses de que dispunham, formularam timidamente uma outra que se denomina “memória ancestral” (criptomnésia), segundo a qual os médiuns seriam aptos a conversar numa língua inteiramente desconhecida deles, desde que algum de seus antepassados houvesse pertencido ao povo cuja língua eles falam. Nesse caso fora de presumir-se que as condições mediúnicas fazem brotar, das estratificações de uma hipotética “memória ancestral”, subconsciente, o conhecimento pleno do idioma falado pelo ascendente do médium. A bem da história, importa lembrar que a hipótese da “ memória ancestral” foi sugerida originariamente pela doutora russa Maria Manaceine, porém com o intuito muito limitado de explicar um outro fenômeno mnemônico bastante discutido: o da emersão de lembranças de acontecimentos que na realidade nunca se deram na vida daquele que os recorda, fenômeno que Manaceine, depois de Letourneau, procurou explicar, estendendo a influência da lei de hereditariedade também aos da memória, mas unicamente sob a forma da emergência fragmentária de fatos sucedidos aos antepassados.

O professor Richet considera “verdadeiro milagre” o fenômeno de falar em línguas ignoradas e não tenta diminuir a imensa importância teórica do fato, em sentido espiritualista.

No seu livro Xenoglossia, Ernesto Bozzano coloca vários exemplos dos diversos tipos de mediunidade poliglota.

Para a parapsicologia, a mente humana tem uma faculdade ilimitada de aprender qualquer coisa através de seu inconsciente, portanto a xenoglossia seriam um fenômeno natural que ocorre em certas pessoas, em momentos de euforia, excitação, transe, etc., sem haver necessariamente nenhuma ligação com o sobrenatural, ou seja, o fenômeno tem um fundo anímico, pois é provocado pelo subconsciente do indivíduo.

Doutrina Espírita vem desmistificar o tema Xenoglossia, pois ela é cercada de incompreensão e de ignorância, pois é somente compreendida de uma forma mágica ou dogmática, o fenômeno sempre existiu em todas as épocas da nossa humanidade e o Espiritismo vem aclarar usando a fé raciocinada. A Doutrina Espírita comprova que somos espíritos imortais, e que tivemos muitas reencarnações, sendo assim aprendemos muitas línguas em diversos lugares que habitamos.

Podemos então afirmar que não são apenas os tratados e monografias que registram os fenômenos citados. O Velho e o Novo Testamento são ricos em comunicações xenoglóssicas.


1- CLASSIFICAÇÃO: 

A mediunidade poliglota pode ser classificada da seguinte maneira:

a- Falante (pela incorporação ou na materialização);

b- Audiente;

c- Escrevente (psicografia ou tiptologia);

d- Voz direta;

e- Escrita direta (mãos visíveis ou invisíveis).


a- Falante
b- Audiente 


Xenoglossia falante é a em que o médium, incorporado, fala em qualquer idioma, seja inglês ou francês, latim ou hebraico, sem conhecer estas línguas. Pode, também, ouvir os Espíritos em outros idiomas.

Em exemplo dado no livro de Bozzano, Caso de Laura Edmonds que era apta a falar automaticamente em dez línguas diversas, que totalmente ignorava, sem compreender, ao demais, o significado do que ela mesmo dizia. Daí ressalta claramente a diferença que há entre os estados sonambúlicos e as condições de possessão mediúnica. Quer dizer também, que no primeiro caso, a faculdade supranormal da “leitura do pensamento” torna apto o sonâmbulo a compreender perguntas formuladas em línguas que desconhecida, mas que não existia na sua subconsciência nenhuma faculdade capaz de fazê-lo conhecer o que nunca aprendera, decorrendo daí que não podia exprimir-se em língua que ignorava. Contrariamente, no caso de Laura Edmonds, o aparente milagre se produzia por ser ela médium em condições de possessão mediúnica, o que significa que na realidade quem fala por seu intermédio não é a sua personalidade e sim uma entidade espiritual que se apossa momentaneamente de sua laringe.

c- Escrevente 


Os casos de psicografia de mensagens, cartas, possibilidade de grafados caracteres estranhos, em lousas ou paredes.

d- Voz direta (Pneumatofonia)
e- Escrita direta 


Nas experiências de “voz direta”, o de “xenoglossia” é fenômeno mais ou menos freqüente, tão freqüente que quase não há bons “médiuns” dessa natureza, que não tenham oferecido e não continuem a oferecer notáveis exemplos do aludido fenômeno.

As comunicações mediúnicas por meio da “voz direta” se prestam de modo muito especial à exteriorização das conversações poliglotas, o que, presumivelmente, se deve atribuir á circunstância de permitir, essa forma de mediunidade, que a entidade comunicante se mantenha bastante independente do psiquismo do “médium”, para ficar em condições de exprimir-se numa língua que este último ignora. Isso na maioria das vezes não seria possível com a “psicografia”, porquanto esta se produz mediante a transmissão telepática do pensamento da entidade comunicante ao “médium”, que o traduz subconscientemente na sua língua, salvos os casos em que aquele entidade consegue influenciar mais ou menos diretamente, no “médium” os centros cerebrais da linguagem falada ou escrita.

2- CASOS 

Um livro mais atual psicografado por Francisco Cândido Xavier, autoria de André Luiz em um de seus capítulos trata do mesmo assunto – Xenoglossia. O livro “Nos Domínios da Mediunidade”, o capítulo 23 – Fascinação, André Luiz vai assistir a um trabalho de desobsessão junto com Hilário dirigente espiritual que orienta André sobre o que se passa na reunião. Um senhora fica envolvida por um espírito de forma muito agressiva e explica ser um caso de fascinação. No decorrer do capítulo em questão o espírito manifesta-se num linguajar que os presentes não entendiam.

O mentor Espiritual deteve-se durante alguns minutos a auscultar o cérebro do comunicante e o da médium, como a lhe sondar o mundo íntimo e, sem seguida relato o que se passa.

“A desavença vêm de longa distância no tempo”.

Nosso infeliz irmão fala um antigo dialeto da velha Toscana ( Itália), onde, satisfazendo a obsidiada de hoje, se fez cruel estrangulador. Era legionário de Ugo, o poderoso duque de Provença ( França),. No século X e para satisfazer a mulher que amava teve a infelicidade de aniquilar os próprios pais. Tem o coração como um vaso transbordante de fel.

André questiona:- “Estamos no Brasil e a obsidiada ensaiava frases num dialeto já morto. Estamos à frente de um caso de mediunidade poliglota ou xenoglossia, é um caso de sintonia e não apenas mediunidade. Contudo, se a doente não lhe houvesse partilhado da experiência terrestre, como legitima associada de seu destino, poderia o comunicante externar-se no dialeto com que se caracteriza?

Positivamente não esclareceu Aulus e conclui mais adiante, em mediunidade há também o problema da sintonia no tempo. E podemos acrescentar prolongando um pouco mais este assunto que o mesmo ocorre com psicógrafos que têm pouca instrução, os espíritos vão buscar no subconsciente a arte da escrita e retida no arquivo da memória, cujos centros o companheiro desencarnado consegue manobrar.

O que é sintonia no tempo? É o processo pelo qual a mente humana, ligando-se ao pretério distante, provoca a emersão, das profundezas subconscienciais, de expressões variegadas e multiformes que ali jazem adormecidas. 

A subconsciência é o porão da individualidade. Lá se encontram guardados todos os valores intelectuais e conquistas morais acumulados em várias reencarnações, como fruto natural de sucessivas experiências evolutivas.

Só pode ser médium poliglota aquele que já conheceu, noutros tempos, o idioma pelo qual se expresse durante o transe.

A criatura que, noutras encarnações, não conheceu o latim, não pode, mediunizada, expressar-se por ele. É o que se depreende, por sinal com muita lógica da explicação do Assistente Aulus:

“Quando um médium analfabeto se põe a escrever sob o controle de um amigo domiciliado em nosso plano, isso não quer dizer que o mensageiro espiritual haja removido milagrosamente as pedras da ignorância. Mostra simplesmente que o psicógrafo traz consigo, de outras encarnações, a arte da escrita já conquistada e retida no arquivo da memória, cujos centros o companheiro desencarnado consegue manobrar.”

Não basta, por conseguinte, ser médium para receber comunicações em outras línguas.

É preciso tê-las conhecido no passado ou conhecê-las no presente.

Em o livro dos “Médiuns”, 2ª parte, capitulo XIX – papel dos médiuns nas comunicações, item 223, questão 17: “A aptidão de certos médiuns para escreverem numa língua estranha não provém do fato de a terem usado noutra existência conservando-a de forma intuitiva?” Certamente isto pode acontecer, mas não é regra. O espírito pode, com algum esforço, superar momentaneamente a resistência material. É o que se verifica quando o médium escreve, na própria língua, palavras que não conhece. Final do item 225 “ quando o espírito se exprime numa língua familiar ao médium encontra as palavras já formadas e prontas para traduzir suas idéias. Se o faz numa língua estrangeira não dispõe das palavras, mas apenas das letras. É então, que o espírito se vê obrigado a ditar, por assim dizer, letra por letra, exatamente como quiséssemos fazer escrever em alemão uma pessoa que nada soubesse dessa língua”. Bozzano afirma então que a entidade influencia diretamente no médium os centros cerebrais da linguagem falada ou escrita, denominando isso de possessão mediúnica.

É de tradição considerar possessão como um fenômeno que só ocorre com espíritos com grau evolutivo pequeno, entretanto, vejamos quanto a possibilidade da possessão ser utilizada pelos bons espíritos, encontramos na Gênese o seguinte no capítulo XIV item 48: “ A obsessão é sempre o fato de um espírito malfazejo. A possessão pode ser o fato de um bom espírito que quer falar e para fazer mais impressão sobre os seus ouvintes, empresta o corpo de um encarnado, que lhe empresta voluntariamente o corpo como empresta a sua roupa. Isto se faz sem nenhuma perturbação ou mal-estar, e, durante esse tempo, o espírito se encontra em liberdade, como no estado de emancipação, e, o mais frequentemente, se coloca ao lado de seu substituto para escutá-lo”.


A MEDIUNIDADE NO APOSTOLADO 


Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam “como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma: “Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).

Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia. Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos: “Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46). 

HELENA PETROVNA BLAVATSKY



Foi uma das figuras mais notáveis do mundo no último quartel do século XIX. Ela abalou e desafiou de tal modo as correntes ortodoxas da Religião, da Ciência, da Filosofia e da Psicologia, que é impossível ficar ignorada. Foi uma verdadeira iconoclasta - ao rasgar e fazer em pedaços os véus que encobriam a Realidade. Mas, porque estivesse a maioria presa às exterioridades convencionais, tornou-se o alvo de ataques e injúrias, pela coragem e ousadia de trazer à luz do dia aquilo que era blasfêmia revelar. Lenta mas seguramente, os anos se encarregaram de fazer-lhe justiça. Apesar das invectivas, considerava-se feliz por trabalhar "a serviço da humanidade', e deu provas de sabedoria ao deixar que as futuras gerações julgassem a sua magnífica obra (1).

Helena Petrovna Hahn nasceu prematuramente à meia-noite de 30 para 31 de julho (12 de agosto pelo calendário russo) de 1831, em Ekaterinoslav, na província do mesmo nome, ao sul da Rússia. Tão estranhos foram os incidentes ocorridos na hora do seu nascimento e por ocasião do seu batismo, que os serviçais da família lhe predisseram uma existência cheia de tribulações.

Helena foi uma criança voluntariosa, oriunda de uma linhagem tradicional de homens e mulheres influentes e poderosos. A história dos seus antepassados é a história mesma da Rússia. Séculos atrás, os nômades eslavos erravam através da Europa central e oriental. Tinham formas de governo próprias; mas, quando se estabeleceram em Novgorod, fracionaram-se em feudos, que se desavieram entre si, não sendo possível chegarem a uma conciliação.

Chamaram em seu auxílio Rurik (862 A.D. ), chefe de uma das tribos errantes de "Russ", homens do Norte ou escandinavos, que andavam à cata de mercado e procurando estender o seu domínio. Rurik veio e organizou em Novgorod o primeiro governo civil, que se constituiu em um centro opulento de comércio com o Oriente e o Ocidente. Foi ele o primeiro soberano e reinou pelo espaço de quinze anos. Durante sua vida, o filho Igor e o sobrinho Oleg consolidaram-lhe o domínio no Oeste e no Sul. Kiev tornou-se um grande Principado, e aquele que o governava era virtualmente o soberano da Rússia. 

Ao longo dos séculos, os descendentes de Rurik ampliaram as suas conquistas e a sua autoridade sobre todo o país. Vladimir I (m. 1015) escolheu o Cristianismo como religião do seu povo, e o chamado "paganismo" desapareceu. Yaroslav o Sábio (m. 1034) elaborou Códigos e os "Direitos Russos"- O sexto filho de Vladimir II (1113-24) foi Yuri, o ambicioso ou "dolgorouki". Este apelido persistiu como título de família. Yuri fundou Moscou, e sua dinastia deu origem aos poderosos Grão-Duques, cujos governos se caracterizaram por lutas violentas entre eles próprios. As hordas mongóis, em 1224, tiraram partido das divergências e sujeitaram os grupos turbulentos que se rivalizavam em sede de poder e posição. Mas Ivan III, um Dolgorouki, libertou-se em 1480 do jugo mongol; e Ivan IV exigiu ser coroado Czar, arrogando-se a autoridade suprema. Com a morte de seu filho terminou a longa e brilhante dinastia dos Dolgorouki. Mas a família ainda exercia influência nos dias dos Romanoff, até a morte da avó da Senhora Blavatsky, a talentosa e culta Princesa Elena Dolgorouki, que se casou com André Mikaelovitch Fadeef, o "mais velho" da linhagem Dolgorouki, da qual os Czares Romanoff eram considerados um dos ramos "mais novos".

Vê-se, pois, que a família de Helena pertencia à classe superior, na Rússia, com tradição e dignidade a preservar, sendo conhecida em toda a Europa. Helena era uma rebelde, e desde a infância sempre manifestou desprezo pelas convenções, o que não a impedia de compreender que as suas ações não deviam molestar a família, nem ferir-lhe a honra. Seu pai, o Capitão Peter Hahn, descendia de velha estirpe dos Cruzados de Mecklemburg, os Rottenstern Hahn. Em virtude de, aos onze anos de idade, haver perdido a mãe, mulher inteligente e devotada à literatura, Helena passou a adolescência em companhia de seus avós, os Fadeef, em um antigo e vasto solar de Saratov, que abrigava muitos membros da família e grande número de criados e servidores, por ser o seu avô Fadeef governador da província de Saratov.

A natureza de Helena estava fortemente impregnada de uma inata capacidade psíquica, de tal modo que constituía sua característica predominante. Ela se dizia (e o demonstrava) dotada da faculdade de comunicar-se com os habitantes de outras esferas ou mundos invisíveis e sutis, e com os entes humanos que consideramos "mortos". Essa potencialidade natural foi posteriormente disciplinada e desenvolvida. Sua educação recebeu a influência da posição social da família e dos fatores culturais então imperantes. Assim, ela era hábil poliglota e tinha excelentes conhecimentos musicais; de sua erudita avó herdou o senso científico e a experiência; e partilhava dos pendores literários que pareciam correr nas veias da família.

Em 1848, com a idade de 17 anos, Helena contraiu matrimônio com o General Nicephoro Von Blavatsky, governador da província de Erivan, que era um homem já entrado em anos- Existem muitas versões sobre a razão desse casamento; que não foi do seu agrado, ela o demonstrou desde o primeiro momento- Após três meses, abandonou o marido e fugiu para a casa da família, que a encaminhou ao pai. Receando ser obrigada a voltar para o General Blavatsky, tornou a fugir, no caminho; e durante vários anos correu o mundo em viagens cheias de aventuras. 0 pai conseguiu comunicar-se com ela e fez-lhe remessa de dinheiro. Ao que parece, manteve-se ela ausente da Rússia o tempo suficiente para poder legalizar a sua separação do marido.

Em 1851 Helena, agora Senhora Blavatsky ou H. P. B., teve o seu primeiro encontro físico com o Mestre, o Irmão Mais Velho ou Adepto, que fora sempre o seu protetor e a havia preservado de sérios perigos em suas irrequietas travessuras da infância. A partir desse momento, passou ela a ser a sua fiel discípula, obedecendo-lhe inteiramente à influência e diretiva. Sob a orientação do Mestre, aprendeu a controlar e dirigir as forças a que estava submetida em razão de sua natureza excepcional. Essa orientação conduziu-a através de várias e extraordinárias experiências nos domínios da "magia" e do ocultismo. Aprendeu a receber mensagens dos Mestres e a transmiti-Ias aos seus destinatários, e a enfrentar valentemente todos os riscos e incompreensões no seu caminho. Seguir o rastro de suas peregrinações durante o período desse aprendizado é vê-Ia em constante atividade pelo mundo inteiro. Parte do tempo ela o passou nas regiões do Himalaia, estudando em mosteiros onde se conservam os ensinamentos de alguns dos Mestres mais esclarecidos e espirituais do passado. Estudou a Vida e as Leis dos mundos ocultos, assim como as regras que devem ser cumpridas para o acesso a eles. Como testemunho desse estágio de sua educação esotérica, deixou-nos uma primorosa versão de axiomas espirituais em seu livro The Voice of Silence (A Voz do Silêncio).



Em 1873, H. P. Blavatsky viajou para os Estados Unidos da América, a fim de trabalhar na missão para a qual fora preparada. A alguém de menos coragem a tarefa havia de parecer impossível- Mas ela, uma russa desconhecida, irrompeu no movimento espiritualista, que então empolgava tão profundamente a América e, em menor escala, muitos outros países. Os espíritos científicos ansiavam por descobrir o significado dos estranhos fenômenos, e se defrontavam com dificuldades para abrir caminho em meio às numerosas fraudes e mistificações. De duas maneiras tentou H. P. B- explicá-los: 1.° pela demonstração prática de seus próprios poderes; 2.° afirmando que havia uma ciência antiqüíssima das mais profundas leis da vida, estudada e preservada por aqueles que podiam usá-la com segurança e no sentido do bem, seres que em suas mais altas categorias recebiam a denominação de "Mestres", embora outros títulos também lhes fossem conferidos, como os de Adeptos, Chohans, Irmãos Mais Velhos, Hierarquia Oculta, etc.

Para ilustrar suas afirmações, H.P.B. escreveu Isis Unveiled (Ísis sem Véu), em 1877, e The Secret Doctrine (A Doutrina Secreta), em 1888, obras ambas "ditadas" a ela pelos Mestres. Em Ísis sem Véu lançou o peso da evidência colhida em todas as Escrituras do mundo e em outros anais contra a ortodoxia religiosa, o materialismo científico e a fé cega, o ceticismo e a ignorância. Foi recebida com agravos e injúrias, mas não deixou de impressionar e esclarecer o pensamento mundial.

Quando H. P. B. foi "enviada" aos Estados Unidos, um de seus objetivos mais importantes consistiu em fundar uma associação, que foi formada sob a denominação de THE THEOSOPHICAL SOCIETY (Sociedade Teosófica), "para pesquisas e difundir o conhecimento das leis que governam o Universo"'. A Sociedade apelou para a "fraternal cooperação de todos os que pudessem compreender o seu campo de ação e simpatizassem com os objetivos que ditaram a sua organização" a. Essa "fraterna cooperação" tornou-se a primeira das Três Metas do trabalho da Sociedade, as quais foram durante muitos anos enunciadas nestes termos:

Primeira - Formar um núcleo de Fraternidade Universal na Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor.

Segunda - Fomentar o estudo comparativo das Religiões, Filosofias e Ciências.

Terceira - Investigar as leis inexplicáveis da Natureza e os poderes latentes do homem.

Foi recomendado à Senhora Blavatsky que persuadisse o Coronel Henry Steel Olcott a cooperar com ela na formação da Sociedade. Era um homem altamente conceituado e muito conhecido na vida pública da América, e tanto ele como H. P. B. tudo sacrificaram em prol da realização da tarefa que os Mestres lhes haviam confiado.

Ambos foram para a índia em 1879, e ali construíram os primeiros e sólidos alicerces do seu trabalho. A Sociedade expandiu-se rapidamente de país em país; sua afirmação de serviço pró-humanidade, a amplitude de seu programa, a clareza e a lógica de sua filosofia e a inspiração de sua orientação espiritual ecoaram de modo convincente em muitos homens e mulheres, que lhe deram o mais firme apoio. H. P. B. foi investida pelos Mestres com a responsabilidade de apresentar ao mundo a Doutrina Secreta ou Teosofia: ela era a instrutora por excelência; ao Coronel Olcott foi delegada a incumbência de organizar a Sociedade, o que ele fez com notável eficiência. Como era natural, esses dois pioneiros encontraram a oposição e a incompreensão de muita gente; especialmente H. P. B. Mas ela estava preparada para o sacrifício. Como escreveu no Prefácio de A DOUTRINA SECRETA: "Está acostumada às injúrias, e em contato diário com a calúnia; e encara a maledicência com um sorriso de silencioso desdém."

A fase mais brilhante e produtiva de H. P. B. foi talvez a que se passou na Inglaterra entre os anos de 1887 e 1891. Os efeitos do injusto Relatório da "Sociedade de Investigações Psíquicas" ( 1885) acerca dos fenômenos que ela produzia, assim como os dos ataques desfechados pelos missionários cristãos da índia, já haviam em parte desaparecido. Ao seu incessante labor de escrever, editar e atender à correspondência, somava-se a tarefa de formar e instruir discípulos capazes de dar prosseguimento à sua obra. Para este fim, organizou, com a aprovação oficial do Presidente (Coronel Olcott), a Seção Esotérica da Sociedade Teosófica. Em 1890 contava-se em mais de um milhar o número de membros que se achavam sob a sua direção em muitos países.

A DOUTRINA SECRETA se define por seu próprio título. Expõe "não a Doutrina Secreta em sua totalidade, mas um número selecionado de fragmentos dos seus princípios fundamentais". 1º) Mostra: que é possível obter uma percepção das verdades universais, mediante o estudo comparativo da Cosmogonia dos antigos; 2º) proporciona o fio que conduz à decifração da verdadeira história das raças humanas; 3°) levanta o véu da alegoria e do simbolismo para revelar a beleza da Verdade; 4º) apresenta ao intelecto ávido, à intuição e à percepção espiritual os "segredos" científicos do Universo, para sua compreensão. Segredos que continuarão como tais enquanto não forem entendidos. 

H. P. B. faleceu a 8 de maio de 1891, deixando à posteridade o grande legado de alguns pensamentos dos mais sublimes que o mundo já conheceu. Ela abriu as portas, há tanto tempo cerradas, dos Mistérios; revelou, uma vez mais, a verdade sobre o Homem e a Natureza; deu testemunho da presença, na Terra, da Hierarquia Oculta que vela e guia o mundo. Ela é reverenciada por muitos milhares de pessoas, porque foi e é um farol que ilumina o caminho para as alturas a que todos devem ascender.
Josephine Ransom
Adyar, 1938

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