Clemente, precursor de Orígenes na escola
de catequese de Alexandria, dizia possuir uma tradição secreta, reservada
aos poucos que a podiam compreender, que lhe havia sido passada por Pedro,
Tiago, João e Paulo. Clemente afirmava que os mistérios ocultos que Cristo
revelara aos apóstolos eram diferentes dos ensinamentos dados aos cristãos
comuns.
Orígenes também tinha um ensinamento
secreto. Ao contrário de Clemente, não dizia tê-lo recebido dos apóstolos,
mas tê-lo encontrado nas próprias Escrituras. Afirmava possuir a inspiração,
o conhecimento e a graça necessários para descobri-lo.
Isto não quer dizer que os revelasse a
todos. Orígenes diz que o homem que encontrar o significado oculto das
Escrituras, deve escondê-lo: “Um homem vem ao campo... e encontra um
tesouro oculto de sabedoria... E, ao encontrá-lo, esconde-o, pois pensa ser
perigoso revelar a todos o significado oculto das Escrituras, ou os
tesouros de sabedoria e de conhecimento em Cristo”.
Qual seria o conteúdo deste seu
ensinamento secreto? Nos Primeiros Princípios Orígenes dá-nos uma pista. Numa
lista das doutrinas mais importantes aponta a “questão das diferenças entre
as almas e de como elas surgiram”. O estudioso R.P.C. Hanson conclui que
esta lista de doutrinas representa claramente “os pontos do ensinamento
secreto de Orígenes”. Se o ensinamento secreto de Orígenes inclui as
razões pelas quais as almas são diferentes no nascimento, seria lógico que
ele incluísse também a preexistência e a reencarnação.
Se ainda restam dúvidas sobre o fato de
Orígenes ter se referido ou não à reencarnação, podemos confiar no
Patriarca da Igreja do século IV, Jerônimo, que o acusou de fazê-lo. Jerônimo
teve acesso aos seus textos originais em grego, e disse que uma das passagens
de Primeiros Princípios prova que Orígenes “acreditava na transmigração
das almas”.
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