A professora sempre pedia para fazermos redações e eu as fazia. Nunca tive coragem de ler qualquer coisa que eu tivesse escrito nos meus dias de criança no primário ou no ginásio. Achava que minha voz era muito grave e que pudéssem rir de mim, além de ter dois ou três alunos que na época levantavam a mão com uma constante que a professora acabava os chamando à frente da sala para a leitura. Eram tão massantes e longas e nem eram assim tão boas. Eu cheguei a acreditar que as minhas eram tolas e não as guardei.
Quisera poder ter em mãos todas as estórias que contei, no entanto o que me restam são fragmentos delas. Sim, eu recordo em boa parte de todas elas.
Escrevi uma estória super engraçada sobre um filhote de vaca que questionava o porquê de estar sendo visto por um filhote de homem...rs, não me lembro o resto, o que me lembro é que um primo meu bem mais velho, de outra cidade, a leu e ficou estupefato ao saber que tinha sido eu a redatora. Para mim eram apenas palavras comuns que eu simplesmente escrevia porque a professora pedia.
Outra vez tive que fazer um cartaz, daquele de cartolina que se usava para pregar nas paredes em dias comemorativos. Se me lembro bem o tema era sobre a paz na Terra. Eu além de desenhar a tal da pombinha escrevi o texto. Um texto comum como tantos que eu havia escrito. A direitora ao ler veio à minha procura porque queria saber quem era o autor daquelas palavras, palavras essas que segundo ela tinham grande poder de persuarsão. Eu não sabia que era boa.
Minha irmã sempre teve dificuldades para escrever qualquer coisa, inclusive custou a ser alfabetizada, devia ter algum tipo de probleminha, comigo o processo foi bem diferente, não conseguia viver sem um livro nas mãos. Eu fazia com frequência todas as as redações que sua professora pedi e ela sempre era ouvida e aclamadas nas aulas. Pergunto-me hoje, se eu escrevia tão bem nas redações que fazia para minha irmã, porque eu nuna lia as minhas nas aulas?
A resposta é simples: eu sempre tive vergonha de me expor.
Esse meu medo de dizer o que eu escrevia só me fez uma pessoa introspectiva até que comecei a ganhar concursos e prêmios de redação. Hoje cometo o mesmo crime com a filha da minha irmã - escrevo suas redações. Claro que tento colocar de uma forma que pareça que tenha sido ela a autora. Sei que isso é errado e a faço escrever suas próprias ideias ao invés de entregar as minhas.
O que eu quero dizer é que eu sempre duvidei do meu potencial por medo. O medo não existe porque somos todos iguais e ninguém é melhor do que niguém até que alguém te digue isso e você acredite.
Lembranças de um sonho bom
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