Origem: França
Diretor: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Com: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi, Amr Waked
Autor de vários gêneros (O Profissional (1994), Além da Liberdade, (2011), A Família
(2013)…), Luc Besson, “o mais hollywoodiano dos diretores franceses” –
como alguns críticos gostam de dizer por aqui – traz para as telas,
neste ano, um filme que mistura ação, ficção científica e filosofia, por
mais maluco que isso possa parecer.
Escolhido para abrir o Festival de Locarno, aqui na Suíça, Lucy
é um filme envolvente, daqueles que nos deixam ligados do começo ao
fim, não nos dando muito tempo para a reflexão, mesmo que o tema e as
imagens na tela peçam vez por outra nossa intervenção. Talvez
seja justamente este o porquê dos críticos franceses considerarem Besson
tão hollywoodiano e de terem falado tão mal deste seu novo filme… A
crítica francesa gosta mesmo é de fazer pensar!
É verdade que, logo que o filme termina,
ficamos sim com aquela sensação de termos acabado de assistir a uma
historia muito louca, barulhenta, sem pé nem cabeça, mas que, enquanto
nos distanciamos da sala de cinema, vai devagarzinho fazendo sentido. E,
pouco a pouco, vamos conseguindo conectar os fatos, dissecar as
imagens, enxergando com mais clareza as tantas mensagens ali implícitas.
Com excelente ritmo, montagem criativa e
bem humorada, o filme conta, em uma primeira parte, a história de Lucy
(Scarlett Johansson), uma jovem estudante, residente em Taipei, que se
envolve com um desconhecido traficante de drogas.
Vestida de casaco de onça, vestido
curtíssimo colado ao corpo, maquiagem borrada e uma ressaca animal, a
louríssima Lucy acaba virando presa fácil nas mãos dos poderosos
traficantes de uma nova droga a ser lançada no mercado europeu: a CPH4.
Uma substância sintética que imita a substância natural produzida pelas
mulheres na sexta semana de gravidez. Aqui vale um parênteses: (a
sequência da entrada de Lucy no hotel, bem no começo no filme, é super
interessante, composta por uma montagem paralela, revezando as cenas de
Lucy, presa-humana caminhando rumo à armadilha preparada pelo
animal-homem e as cenas de uma presa-animal sendo atraída por um
animal-animal em plena selva).
Lucy e mais outros infelizes serão
usados como “mulas”, transportando a droga dentro de seus corpos para
diferentes capitais europeias e para os EUA. Acontece que, após alguns
chutes levados na barriga, o saco estoura dentro do corpo da jovem
americana e a droga começa a se espalhar por seu corpo. A moça vai pouco
a pouco percebendo o mundo de forma diferente, tornando-se hiper
sensível a tudo que está ao seu redor. Usando um percentual maior de sua
capacidade cerebral, ela lê mentes, enxerga o invisível, aprende a
falar chinês em uma hora e muito mais. No entanto, seus sentimentos vão
se esvaindo. Não sente mais medo, dor, pena…
Em um segundo momento do filme, mudando
de continente e de personagens, vemos o professor Norman (Morgan
Freeman), dando uma aula na Sorbonne. Ele apresenta suas hipóteses sobre
o que aconteceria se o ser humano conseguisse usar mais do que 10% da
capacidade cerebral (teoria, aliás, já bem explorada em obras de ficção
científica). Se usássemos 20%, por exemplo, já conseguiríamos ter um
domínio bem maior sobre nosso corpo, sobre nossas sensações e sobre o
mundo que nos cerca. E o que aconteceria se conseguíssemos descobrir uma
maneira de usar 40%? Ou 100%? Neste caso, responde o professor, já
estaríamos entrando no mundo da ficção científica.
E a partir dessa fala, o filme começa a
se desviar, de fato, para o gênero da ficção científica, com Lucy
controlando mentes, objetos, enxergando o que mais ninguém vê, dominando
todos os personagens do filme e todos os espectadores na plateia.
Daí por diante, as duas histórias vão
então se cruzar, já que é ao professor Norman que Lucy vai pedir
socorro. E não vão faltar sequências cheias de ação e movimento, com
muitos tiros e muito sangue derramado. Além de cenas pra lá de surreais e
psicodélicas, referências a filmes marcantes na história do cinema,
como o famoso 2001 – Uma odisseia no espaço (1968), de Stanley Kubrick, ou ao A Arvore da Vida (2011), de Terrence Malick. A maior viagem!
Mas por trás dessa história de desmantelamento de uma poderosa rede de tráfico de drogas, em sua essência, Lucy
levanta questões bem mais filosóficas: a que leva tanto conhecimento?
Será que precisamos de fato explorar todo o potencial de nosso cérebro?
Controlar mentes, ler pensamentos, enxergar o invisível… de que
maneira isso nos faz agir de forma diferente dos animais-animais? Qual o
preço a pagar? Vale a pena? Para que serve essa corrida desenfreada
rumo à informação total, ao domínio de tudo e de todos, se no final, o
que conta mesmo na vida é o que conservamos de mais primitivo dentro de
nós: nossos sentimentos. Essa é nossa verdadeira riqueza, nossa
essência, é o que nos constitui de fato, é quem realmente somos, desde
sempre, desde os primórdios, desde a primeira Lucy, fóssil de Australopithecus afarensis encontrado há 3,5 milhões de anos e que fará duas aparições no filme de Besson.
É ver para crer!
Um filme PRA SE DIVERTIR e PRA PENSAR.
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