sábado, outubro 13, 2012


A juventude transviada, a promessa de uma liberdade libertina são formas quase extintas de viver a vida. O "se dar bem na vida" carrega uma maldição de responsabilidades inevitáveis para que a trindade adorada estudo-trabalho-relacionamento seja assim na prática tão maravilhosa como proclama a teoria. Considero uma utopia, discorde. Cedo, e hoje mais do que nunca, é colégio integral, escola de inglês, natação e tênis. Férias, cursinho de línguas, para aperfeiçoar. Intercâmbio, para divertir é que não dá. Há tanto museu e cultura para agregar. Faculdade, vestibular, agora começa a diversão prometida. Mas são listas e listas de exercícios para treinar nossa vã filosofia. Semana de provas, trabalho final, e os finais de semana floridos ficam protegidos pelo vidro da janela. Aqui dentro, estudo e silêncio. Nem moscas voam. Até elas se aborrecem com tanto teorema. Formatura, uma noite de diversão com os amigos em um baile de gala para comemorar quatro anos de privação. Em prol do conhecimento. E de um contra cheque gordo. Com ele, é possível fazer o tão sonhado casamento. Comprar o sítio de final de semana. Acumular garrafas de bebidas importadas, no bar que os amigos poucos visitam para fazer um happy hour entre uma semana e outra de mesmice. Agora sim, estabilidade para curtir a vida. Na hora em que o choro do filho parar de correr. Ou que o cachorro desistir de comer os sapatos e tentar te enlouquecer. Ou quando a preocupação com tantos gastos descer pelo ralo. E antes que se perceba, veio a aposentadoria. Como uma mulher sedutora, que abana um lenço branco, promessa de calmaria. E quando se está para tocar nessa pedra filosofal eis que toca a campainha, descem do carro os netos infantes e começa a barulheira, a trabalheira, as férias em família. A correria se dá casa a dentro e nos olhos dela há um reflexo melancólico de lembranças empoeiradas. Parece que pela sua cabeça passam alguns momentos que não foram vividos. Tenho quase certeza que ela se pergunta e se responde, num suspiro, que no final das contas, é a vida. Ficou tarde demais para ser irresponsável novamente. É melhor por o bolo para assar.

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