O
novo amor pode parecer para todo o mundo como uma doença mental, uma
mistura de mania, demência e obsessão que afasta as pessoas de
amigos, parentes e leva a um comportamento incomum – telefonemas
compulsivos, serenatas, gritar dos telhados-- que poderia quase ser
confundido com psicose.
Agora,
pela primeira vez, os neurocientistas produziram imagens do cérebro
desta atividade febril, antes de ela se estabelecer na fase vinho e
rosas do romance ou da rotina conjunta dos cartões de festas
assinados por ambos do compromisso de longo prazo.
Em
uma análise das imagens que aparece na revista "The Journal of
Neurophysiology", pesquisadores de Nova York e Nova Jersey
argumentam que o amor romântico é um impulso biológico distinto do
excitação sexual.
Ele
está mais próximo em seu perfil neural a impulsos como fome, sede
ou anseio por drogas, do que a estados emocionais como excitação ou
afeição.
À
medida que o relacionamento se aprofunda, sugerem os escaneamentos do
cérebro, a atividade neural associada ao amor romântico sofre leve
alteração, e em alguns casos estimula áreas profundas do cérebro
primitivo que estão envolvidas no compromisso de longo prazo.
A
pesquisa ajuda a explicar o motivo de o amor produzir emoções tão
díspares, de euforia e raiva até ansiedade, e o motivo de parecer
se tornar ainda mais intenso quando se é privado dele.
Em
uma experiência separada, em andamento, os pesquisadores estão
analisando imagens do cérebro de pessoas que foram rejeitadas pela
pessoa amada. "Quando você sofre deste amor romântico ele
é esmagador, você fica fora de controle, irracional, você vai à
academia às 6h todo dia --por quê? Porque ela está lá",
disse a dra. Helen Fisher, uma antropóloga da Universidade Rutgers e
co-autora da análise. "E quando rejeitadas, algumas
pessoas contemplam perseguição, homicídio, suicídio. Este impulso
por amor romântico pode ser mais forte do que a vontade de viver."
A
tecnologia de imagens do cérebro não pode ler a mente das pessoas,
alertam os especialistas, e um fenômeno com tantos aspectos e
influências sociais como o amor transcende simples gráficos de
computador, como os produzidos pela técnica empregada no estudo,
chamada de Imagem por Ressonância Magnética (IRM) funcional. Ainda
assim, o dr. Hans Breiter, diretor da Colaboração de Neurociência
da Motivação e Emoção do Hospital Geral de Massachusetts,
disse: "Eu desconfio de 95% da literatura de IRM, mas daria
um `A` para este estudo; ele realmente promove um avanço em termos
da compreensão do amor passional".
Ele
acrescentou: "Os resultados se enquadram muito bem dentro de um
corpo maior e crescente de literatura que descreve o sistema de
recompensa e aversão no cérebro, e coloca esta construção
intelectual do amor diretamente no mesmo eixo das recompensas
homeostáticas como comida, calor, anseio por drogas".
No
estudo, Fisher, a dra. Lucy Brown da Faculdade Albert Einstein de
Medicina, no Bronx, e o dr. Arthur Aron, um psicólogo da
Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook, lideraram uma
equipe que analisou cerca de 2.500 imagens do cérebro de 17
estudantes universitários que estavam nas primeiras semanas ou meses
de um novo amor. Os estudantes olhavam para uma foto da pessoa
amada enquanto um aparelho de IRM escaneava o cérebro deles. Os
pesquisadores então compararam as imagens com outras obtidas
enquanto os estudantes olhavam para uma foto de um conhecido.
A
tecnologia de IRM funcional detecta o aumento ou diminuição do
fluxo de sangue no cérebro, o que reflete mudanças na atividade
neural. No estudo, um mapa gerado por computador das áreas
particularmente ativas mostrou pontos acesos nas profundezas do
cérebro, abaixo da consciência, em áreas chamadas de núcleo
caudado e área ventral tegumentar, que se comunicam uma com a outra
como parte de um circuito.
Estas
áreas possuem alta densidade de células que produzem ou recebem uma
substância química do cérebro chamada dopamina, que circula
ativamente quando as pessoas desejam ou antecipam uma recompensa. Em
estudos envolvendo apostadores, usuários de cocaína e até mesmo
pessoas jogando jogos de computador por pequenas quantias de
dinheiro, estes pontos de dopamina se tornam extremamente ativos
quando as pessoas vencem, disseram os neurocientistas.
Mas
se apaixonar está entre os comportamentos humanos mais irracionais,
não apenas uma questão de satisfazer um simples prazer ou obter uma
recompensa. E os pesquisadores descobriram que um ponto em
particular nas imagens por ressonância magnética, no núcleo
caudado, ficava particularmente ativo em pessoas que marcaram muitos
pontos em um questionário que media o amor passional.
Esta
região ligada à paixão estava no lado oposto do cérebro de outra
área que registra atração física, descobriram os pesquisadores, e
parece estar envolvida no anseio, desejo e na atração inexplicável
que as pessoas sentem por alguém, entre muitos parceiros
alternativos atraentes. Esta distinção, entre achar alguém
atraente e desejá-lo ou desejá-la, entre gostar e querer, "acontece
em uma área do cérebro mamífero responsável pelas funções mais
básicas, como comer, beber, o movimento dos olhos, tudo em um nível
inconsciente, e não acho que alguém esperaria que esta parte do
cérebro fosse tão especializada", disse Brown.
A
intoxicação do novo amor abranda com o tempo, é claro, e
resultados de escaneamentos do cérebro refletem alguma evidência
desta mudança, disse Fisher. Em um estudo anterior de IRM
funcional do romance, publicado em 2000, pesquisadores da University
College London monitoraram a atividade cerebral de homens e mulheres
jovens que mantiveram relacionamentos por cerca de dois anos. As
imagens do cérebro, também obtidas enquanto os participantes
olhavam fotos da pessoa amada, mostraram a ativação de muitas das
mesmas áreas apontadas no novo estudo – mas significativamente
menos na região ligada ao amor passional, ela disse. No novo
estudo, os pesquisadores também viram diferenças individuais em seu
grupo de amantes aflitos, baseado em quanto tempo os participantes
estavam nos relacionamentos.
Comparados
com os estudantes que estavam nas primeiras semanas de um novo amor,
aqueles que foram separados por um ano ou mais mostraram maior
atividade significativa em uma área do cérebro associada ao
compromisso de longo prazo.No verão passado, cientistas na
Universidade Emory em Atlanta informaram que ao injetar um único
gene em um animal chamado rato-calunga, isto transformou machos
promíscuos em pais que ficam em casa – ao ativar precisamente a
mesma área do cérebro onde os pesquisadores no novo estudo
encontraram aumento de atividade com o tempo.
"Isto
é muito sugestivo de como ocorrem os processos de compromisso",
disse Brown. "É possível imaginar um tempo em que em vez de ir
ao (site) Match.com você poderá fazer um teste para descobrir se é
do tipo que se compromete ou não." Um motivo para o novo
amor ser de parar o coração é a possibilidade, o medo sempre
presente, de que o sentimento possa não ser inteiramente
correspondido, de que o sonho possa acabar repentinamente. Rompimento
e caos Em uma experiência posterior, Fisher, Aron e Brown
realizaram escaneamentos dos cérebros de 17 homens e mulheres jovens
que tinham sido recentemente abandonados por seus parceiros. Como
no estudo do novo amor, os pesquisadores compararam os dois conjuntos
de imagens, um realizado quando os participantes estavam olhando para
a foto de um amigo ou amiga, o outro quando olhavam para a foto do ou
da ex.
Apesar
de ainda estarem analisando as imagens, os pesquisadores notaram um
resultado preliminar: o aumento da atividade em uma área do cérebro
associada ao amor passional. "Isto parece sugerir o que a
literatura psicológica, a poesia e as pessoas já notaram há muito
tempo: o fato de ser rejeitado na verdade acentua o amor romântico,
um fenômeno que chamo de frustração-atração", disse Fisher
em uma mensagem por e-mail. Uma voluntária do estudo foi
Suzanna Katz, 22 anos, de Nova York, que sofreu com o rompimento com
seu namorado há três anos. Katz disse que se tornou hiperativa para
se distrair após a separação, mas disse que ainda sente momentos
de sofrimento físico, como se estive se curando de uma droga.
"Tinha
pouco a ver com ele, e mais com o fato de que havia algo lá, dentro
de mim, uma esperança, um conhecimento da existência de alguém lá
fora para você e que você é capaz de se sentir desta forma, e
repentinamente me senti como se isso tivesse sido perdido",
disse ela em uma entrevista.
E
não é de se estranhar. Em uma série de estudos, os
pesquisadores descobriram que, entre outros processos, o novo amor
envolve a internalização psicológica da pessoa amada, absorvendo
elementos das opiniões da outra pessoa, hobbies, expressões e
personalidade, assim como o compartilhamento dos seus próprios. "A
expansão do eu ocorre muito rapidamente, é uma das experiências
mais estimulantes que existem e, tirando a ameaça à nossa
sobrevivência, é uma das que mais nos motiva", disse Aron, da
Estadual de Nova York, um co-autor do estudo.
Perder
tudo isto, de uma só vez, enquanto ainda está apaixonado, provoca o
caos nas áreas emocionais, cognitivas e de recompensa mais profundas
do cérebro. Mas o aumento da atividade nestas áreas
inevitavelmente se acalma. E os circuitos no cérebro
relacionados à paixão permanecem intactos, disseram os
pesquisadores – intactos e capazes de com o tempo serem ativados
por uma nova pessoa.
Graças à ciência moderna, nós sabemos que o amor vive no cérebro, e não no coração. Mas que parte do cérebro este sentimento ativa? Será que é o mesmo local que o desejo sexual? De acordo com pesquisa publicada na revistaJournal of Sexual Medicine, cientistas da Universidade Concordia, no Canadá, foram os primeiros a desenhar um mapa exato da atividade destes dois sentimentos no cérebro.
“Ninguém
nunca havia colocado os dois juntos para comparar os padrões de
ativação no órgão”, explica Jim Pfaus, um dos autores do
estudo, em nota
publicada pela universidade.
“Nós não sabíamos o que esperar – os sentimentos podiam estar
completamente separados. Descobrimos, porém, que o amor e o desejo
ativam áreas específicas e relacionadas do cérebro”, conta.
Na
pesquisa, os cientistas analisaram os resultados de 20 outros estudos
científicos. Os trabalhos haviam examinado atividades cerebrais de
indivíduos, enquanto estes eram submetidos a determinadas tarefas,
como observar imagens eróticas ou olhar fotografias de pessoas
amadas. Ao reunir todos esses dados, os pesquisadores canadenses
foram capazes de criar um mapeamento completo do amor e do desejo no
cérebro.
Eles
descobriram que duas estruturas cerebrais em particular – a ínsula
e o estriado – são responsáveis pelo acompanhamento da progressão
tanto do desejo sexual, quanto do amor. A ínsula está localizada no
meio do cérebro, praticamente dividindo-o em dois. O estriado está
bem próximo, porém na parte frontal do órgão, em uma região
conhecida como prosencéfalo.
O
amor e o desejo sexual, porém, ativam áreas diferentes de cada uma
dessas partes. A região específica atingida pelo amor no estriado,
por exemplo, é a mesma associada ao vício de drogas. “O amor
funciona no cérebro do mesmo jeito que as drogas em pessoas que se
tornam viciadas”, explica Jim Pfaus. A diferença, segundo o
cientista, é que o vício em narcóticos é um hábito ruim, e o
amor é um hábito bom.
Além
disso, os pesquisadores descobriram que o desejo sexual deixa as
regiões do cérebro mais ativas do que o amor. “Enquanto o desejo
tem um objetivo muito específico, o amor é um sentimento mais
abstrato e complexo, por isso é menos dependente da presença física
de uma pessoa, por exemplo”, conta Pfaus.
De
acordo com o pesquisador, a neurociência dá muitas respostas aos
cientistas sobre as atividades cerebrais exercidas por fatores como a
inteligência e a resolução de problemas, mas ainda há muito a se
descobrir sobre o amor. “Eu vejo este trabalho como um grande
começo. Acredito que vai estimular outros estudiosos a realizarem
mais pesquisas em neurociência social humana, a fim de desvendar de
uma vez por todas o que é o amor”
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