Em relacionamentos, homens são fanfarrões e cafajestes. Às mulheres, cabe o papel de donzelas sonhadoras, o que alimenta aquela eterna guerra dos sexos, certo? Errado. Pelo menos é o que diz o site de relacionamentos ParPerfeito. Segundo estudo realizado pelo site em maio deste ano, as mulheres têm adotado uma postura mais prática em relação a sua vida amorosa do que os homens. Questões como casamento e filhos aparecem como temas de maior relevância para eles do que para elas, assim como a romântica máxima “foram felizes para sempre” tem mais efeito no universo masculino. Amor à primeira vista também é outro assunto menos importante para elas. Enquanto 72% dos entrevistados acreditam piamente em uma paixão arrebatadora logo de cara, esse número cai para 67% no caso delas. Na teoria, esses resultados parecem apontar para uma novíssima inversão de papéis, em que homens assumem uma postura cada vez mais romântica e as mulheres se transformam no personagem frio da relação. Na prática, os números podem mostrar que homens e mulheres continuam mentindo para atingir seus antigos objetivos: casamento para elas e sexo casual para eles. Qual o cenário mais realista? Estamos mesmo diante de uma mudança comportamental?
Cláudio Gandelman, presidente da Par perfeito, defende que sim. Ele diz que o fato de o estudo ter sido feito confidencialmente garante a autenticidade das respostas. Nenhum dos 19 mil participantes da pesquisa precisou se identificar nem justificar suas intenções. “Anonimamente, ninguém precisa mentir nem fazer gênero”, diz Gandelman. As únicas informações obrigatórias eram o sexo e a idade. Os resultados foram agrupados em quatro faixas etárias diferentes (18 a 25 anos, 26 a 35 anos, 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e depois consolidados em uma média geral. As variações em cada faixa etária foram bem pequenas, exceto pelo grupo dos que estão acima dos 46 anos, pessoas que, segundo Gandelman, já constituíram família e viveram relacionamentos sérios ao logo da vida. “As mulheres estão mais independentes, enxergam cada vez menos o casamento como uma opção de vida”, diz.
Sem dúvida, respostas anônimas tendem a ser mais verdadeiras. Ainda assim, alguns resultados obtidos por esse levantamento suscitam dúvidas quanto à veracidade dos depoimentos pelo seu caráter inédito e quase inusitado. Um dos mais surpreendentes mostra que 58% dos homens pretendem ter filhos, enquanto apenas 43% das mulheres desejam o mesmo. Nos Estados Unidos, uma pesquisa semelhante feita pelo site Match.com, dono do ParPerfeito, aponta na mesma direção. Por lá, 54% dos homens querem crianças contra apenas 44% das mulheres. A professora do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC de São Paulo Andréa Jotta diz que é preciso tomar cuidado com esses dados. Ela afirma que, mesmo anonimamente, as pessoas tendem a projetar desejos quando estão atrás de uma tela de computador. Ainda que os homens não precisem se identificar, é possível que eles tenham respondido o que gostariam de ser ou o que é socialmente menos condenável, transmitindo uma falsa imagem de romantismo e apego a tradições como o casamento. A regra também vale para o lado feminino. Cansadas de desilusões amorosas, as mulheres poderiam ter respondido aos questionários de acordo com a imagem forte que gostariam de ter e com medo de afugentar os potenciais parceiros. Assim, podem ter criado uma imagem de desapego irreal. “Elas não querem passar a imagem de que andam com um anel de casamento no bolso”, diz Andréa.
Pode ser. Apesar das ressalvas da professora Andréa, consegui encontrar dois exemplos de pessoas que confirmam as pesquisas do ParPerfeito: o empresário Rodrigo Giacomini, de 27 anos, e a corretora Ana Maria Marcico, de 40. Giacomini diz que não tem medo de assumir seu romantismo. Cliente do site há seis anos, Giacomini disse ter procurado o site para encontrar uma namorada fora do ambiente de boates, onde, afirma, é muito difícil estabelecer uma conversa mais séria. Já conseguiu nove, e procura a décima candidata a mulher da sua vida. “Chega uma idade em que cansamos de brincar.” Apesar das boas intenções, acha que as mulheres do site têm agido de forma arredia por medo de se magoar, mas, no fundo, gostariam de algo mais sério. “Elas não querem se iludir porque tiveram experiências ruins com outros homens”, diz.
Ana Maria discorda de Giacomini. Ela diz não ter vontade de casar nem de ter filhos e garante que não faz isso por marketing pessoal ou por histórias mal resolvidas. Aos 40 anos, Ana até gosta de relacionamentos sérios, mas prefere não se mudar da casa da mãe. Seu último namoro durou dez anos e não a convenceu a encarar um altar de véu e grinalda. “Estou casada com a minha liberdade”, diz. Ela acredita que pessoas como ela sejam mais comuns do que no passado e afirma nunca ter sido alvo de preconceito por não se enquadrar no modelo mãe de família. “O mundo está muito populoso, meus amigos e minha família já aceitam que essa é minha contribuição”, diz. Apesar da aversão às bodas, Ana reconhece que tudo pode acontecer. “O amor é imprevisível.”
Esse talvez seja o maior ponto fraco da pesquisa. Os entrevistados foram induzidos a escolher apenas algumas opções para perguntas que admitiam uma grande variedade de respostas. Questionados sobre o significado da frase “eu te amo”, homens e mulheres tinham apenas quatro possibilidades de interpretação: “gosto de você”, “quero você na minha vida”, “quero passar o resto da minha vida com você”, e “quero um relacionamento sério com você”. “É muito difícil falar sobre esse assunto sem levar em conta a complexidade da vontade humana”, diz Bernardo Jablonski, psicólogo social da PUC do Rio de Janeiro. Jablonski destaca que os números da pesquisa mostram ainda uma diferença muito pequena na porcentagem de homens e mulheres que sonham e em casar e ter filhos. “É uma mudança, sim, mas toda mudança acontece de forma muito lenta, as coisas demoram para se transformar”, diz. “No fundo, as mulheres ainda querem subir ao altar e os homens ainda sentem necessidade de aprontar”, diz. Será? O que vocês acham disso?
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