quarta-feira, junho 18, 2014

Como tratar a timidez

Timidez x Fobia Social

Quando a timidez apresenta-se tão extrema a ponto de impedir a pessoa tenha uma vida normal em situações sociais chamamos de Fobia Social. Dificilmente a pessoa que sofre com a ansiedade de falar em publico, ou com o mal estar de permanecer em festas e reuniões de trabalho, saberá que o nome técnico é Fobia social, a menos que já tenha pesquisado um pouco e identificado textos científicos que esclareçam o assunto.
A fobia social é um dos transtornos mentais mais comuns, mas ainda é um dos menos tratados em psicoterapia justamente pela falta de informação a respeito das possibilidades de superação.
Timidez intensa, fobia social ou transtorno de ansiedade social significa ansiedade intensa em situações sociais onde tenha que apresentar desempenho diante de outras pessoas, que leva ao sofrimento e perdas de oportunidades.
É caracterizada por um medo acentuado de situações onde tenha que falar ou apenas estar em público. A pessoa tem medo de fazer ou dizer coisas que lhe sejam humilhantes e embaraçosos. A exposição à situação social temida provoca ansiedade intensa, que pode chegar a um ataque de pânico. A pessoa evita estas situações ou as suporta com muito sofrimento.
A fobia social interfere no trabalho, na escola e vida social.
O medo está associado às situações de desempenho, como falar em público, as interações sociais do dia-a-dia, ir a uma festa, uma entrevista de emprego, etc.
Os fóbicos sociais apresentam  hipersensibilidade a criticas, avaliação negativa a respeito de si mesmo, sentimentos de inferioridade, e apresentam grande dificuldade em serem assertivas – falar o que precisam de forma clara e elegante.

O que causa a Fobia Social

Uma experiência traumática, como um embaraço sofrido em publico, poderá ser responsável pelo início da fobia - por exemplo, um aluno que ficou muito nervoso ao ter que ler um texto diante dos demais em sala de aula. Este fato poderá fazer com que este aluno não mais queira ler ou falar em público. Estas experiências traumáticas têm sido reportadas por pessoas com ansiedade severa ao apresentar-se em público, mas devemos observar se os sintomas fóbicos sociais já existiam, podendo-se assim  dizer que tais experiências negativas eram já uma conseqüência da fobia, e não o início do problema.

Falta de habilidades sociais

As pessoas com fobia social sofrem de um grande dificuldade em habilidades sociais, como, por exemplo, iniciar uma conversa com uma pessoa nova, entrevista de emprego,  paquera, etc. Deficiências nas habilidades sociais podem levar uma pessoa a se comportar de uma forma desajeitada  em um primeiro encontro romântico e isto deixá-la com muita vergonha de si mesmo. A falta de habilidade social pode levar o indivíduo a evitar situações onde seja essencial  apresentar comportamento adequado, como uma entrevista de emprego. Existe uma alta incidência de déficits de habilidades sociais em pacientes com fobia social, este fato é responsável pela manutenção do quadro fóbico.

Crenças irracionais

As crenças irracionais estão no centro das neuroses. A ansiedade social pode ser explicada pelas crenças irracionais como por exemplo, a crença de que temos sempre que causar uma boa impressão para sermos aceitos pelas pessoas ou por nós mesmos. Ou a de que temos sempre que ter um desempenho perfeito para mostrarmos o nosso valor como pessoa. Como conseqüência, as pessoas tendem a se cobrar demais, querendo sempre ter um desempenho perfeito, sem erros, o que é impossível para qualquer ser humano. Este grau de exigência leva a um alto nível de ansiedade quando estiver se relacionado com as pessoas, e se sentirá frustrado quando algo não sair como planejado.

O que passa na cabeça do tímido

Os pacientes com fobia social tendem a interpretar de forma errada as situações sociais e seu próprio desempenho, isto é vulnerabilidade cognitiva. Eles consideram que fizeram mais “besteiras” passiveis de ser considerado vexame do que realmente é verdade.
O medo principal na fobia social é o de ser o centro das atenções e expor suas fraquezas, e assim ser considerado um tolo pelas outras pessoas.
O fóbico social, ou o tímido em demasia, tende a distorcer a avaliação de suas experiências. Ele mantém pensamentos patologicamente negativos acerca de si mesmo, suas experiências e seu futuro, crê que sempre se passou por incompetente e sempre será visto como desprezível; procura informações – até onde não existe - para reafirmar sua visão negativa, reforçando suas crenças e mantendo os sintomas. Os erros sistemáticos de percepção levam à manutenção dos pensamentos distorcidos do paciente, apesar das evidências em contrário. Por mais que digam à ele que se saiu bem, que todos gostaram dele, ele sempre vão achar que estão mentindo para ele, mas acreditará quando disserem que ele foi um fisco social.

Por que algumas pessoas são muito tímidas

Para alguns existe uma predisposição para o desenvolvimento da fobia social, que pode ser herdada. Para outros a timidez exagerada pode ser produzida por situações na infância ou na adolescência que sensibilizam o indivíduo para as situações sociais.
Pais com ansiedade social, ou que exigem demais de seus filhos no que se refere a forma de agir diante das pessoas , padrões exagerados de perfeição, superproteção e/ou isolamento dos contatos sociais podem criar em seus filhos mais ansiedade do que seria necessária. Estes fatos vividos na infância ou adolescência aumentam a probabilidade de a pessoa entrar em situações sociais de forma apreensiva, desta maneira sentindo muita ansiedade ou tentando evitá-las. Estas pessoas formam pensamentos de que as situações sociais são perigosas e que a única maneira de prevenir resultados negativos é evitá-las, fugir para não ter contato com o que imaginam que será desastroso. Eles imaginam que serão  humilhados sofreram grande embaraço, e devido a isto evitam as situações sociais ou de desempenho; e quando não conseguem evitá-las sofrem antes e durante de os momentos que estarão diante de outras pessoas.

COMO É O TRATAMENTO DA FOBIA SOCIAL / TIMIDEZ

Atualmente os pesquisadores e clínicos têm focalizado sua atenção sobre o tratamento com a terapia cognitivo-comportamental. As principais técnicas são: exposição, reestruturação cognitiva, técnicas de relaxamento e treino de habilidades sociais.

Técnicas de relaxamento

As técnicas de relaxamento ajudam o paciente a controlar sintomas fisiológicos antes ou durante as situações que a pessoa gostaria de enfrentar com traquilidade. A principal técnica de relaxamento utilizada é o Relaxamento Progressivo de Jacobson. As técnicas de relaxamento são apropriadas a pacientes com fobia social que apresentam intensos sintomas fisiológicos de ansiedade durante uma situação social, por exemplo, se a pessoa suar muito, tremer, ficar vermelha, perder a voz, sentir dor de barriga será especialmente beneficiada com as técnicas de relaxamento. Os estudos mostram que as técnicas de relaxamento facilitam a exposição do paciente à situação temida, porém não são eficazes isoladamente no tratamento da fobia social.

Treinamento de habilidades sociais

As técnicas usadas no treinamento de habilidades sociais são: modelagem, ensaio comportamental, reforçamento social e o treinamento realizado fora da sessão (tarefas de casa). Os estudos que investigaram os efeitos desta técnica relataram superioridade de resultados. Comparações com outras técnicas de tratamento, não-farmacológicas, da fobia social não forneceram resultados consistentes . O uso de técnicas de treinamento de habilidades sociais tem sido recomendado para todos os pacientes com fobia social, quer manifestem déficits de habilidades sociais ou não, pois este possibilita aprendizagem quanto ao que  fazer e não fazer em situações sociais.

Exposição

Exposição facilita ao paciente imaginar (exposição através de imagens mentais) ou confrontar realmente (exposição ao vivo) as situações que quer enfrentar, como, por exemplo, apresentar um trabalho na sala de aula, falar na reunião da empresa ou conversar tranquilamente em festas. O primeiro passo é construir junto com o paciente uma lista das situações temidas, do item que causa menos ansiedade ao que causa mais ansiedade e desconforto. As principais situações no tratamento da fobia social são falar diante de um grande público, comer e beber em público, conversar com outras pessoas, etc. No inicio as situações são enfrentadas através de imagens mentais até que possa enfrentar  situações reais. Após a exposição e quando a situação não provocar mais ansiedade e desconforto, passa-se ao próximo item da lista de situações problemáticas. O processo continua até o paciente poder enfrentar todos os itens com significativa redução da ansiedade e do desconforto. Diversos estudos demonstraram a clara eficácia da exposição no tratamento da fobia social.

Reestruturação cognitiva

Os pacientes com fobia social são ensinados a identificar os pensamentos disfuncionais, ou seja negativos e fora da realidade, e fazer o teste da realidade para corrigir os o que há de distorcido em sua percepção. Esta reavaliação e correção dos pensamentos distorcidos permitem ao paciente perceber que na grande maioria das vezes estava supervalorizando outras pessoas e desvalorizando sua capacidade de enfrentamento.
As técnicas de reestruturação cognitiva tem como objetivo ensinar ao tímido: observar e controlar os pensamentos irracionais e negativos; examinar as evidências favoráveis e contrárias aos pensamentos distorcidos; e corrigir as interpretações tendenciosas por interpretações calcadas na realidade, o que  resulta em redução dos sintomas da fobia social.
A reestruturação cognitiva irá desafiar as crenças errôneas, modificando-as ou substituindo-as por outras mais realistas. A técnica é aplicada tanto nos pensamentos que ocorrem antes da situação social como naqueles que ocorrem durante e após a situação temida. As técnicas de exposição ajudam mais para facilitar a identificação dos pensamentos negativos do que para habituar à ansiedade gerada pela situação social. Diversos estudos demonstraram que a reestruturação cognitiva é uma técnica eficaz no tratamento da fobia social, principalmente se for aplicada conjuntamente com técnicas de exposição.

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NA FOBIA SOCIAL

Estudos  demonstram  eficácia significativa da terapia cognitivo-comportamental na redução da fobia social / timidez. Taylor (1996), em seu estudo comparou grupos de pessoas às quais foram aplicadas as seguintes técnicas: placebo, exposição, reestruturação cognitiva, uma combinação de exposição e reestruturação cognitiva e treinamento de habilidades sociais no tratamento da fobia social. Os resultados demonstraram que os tratamentos possibilitaram superação das dificuldades. A combinação de exposição e reestruturação cognitiva foi o tratamento que trouxe os benefícios mais significativos aos pacientes.

CONCLUSÃO

A fobia social é um dos mais prevalentes transtornos psicológicos na população geral. Seu correto diagnóstico e encaminhamento para tratamento adequado minimizam, se não todos, pelo menos os principais efeitos negativos que esta grave condição de saúde mental impõe a seus portadores. A terapia cognitivo-comportamental constituem-se hoje como principal intervenção terapêutica para os quadros de fobia social.

timidez teatroEntrevista cedida pela psicóloga Marisa de Abreu para revista Sou mais eu da Editora Abril

Timidez e teatro

1 – Como o teatro pode ajudar uma pessoa que sofre de timidez excessiva?

Psicóloga: O teatro funciona como desensibilização. Esta é uma técnica utilizada na psicoterapia. A diferença é que em consultório é estabelecido uma lista de atividades que vão se aproximando do comportamento desejado pouco a pouco. E o paciente que quer deixar de ser tímido avança nas tarefas gradualmente.
No teatro há a oportunidade de enfrentar a situação temida, ou seja falar em publico, com a segurança de “poder errar” e com a segurança de falar um texto que não é seu. Com a sensação de que “não sou responsável por este conteúdo” a pessoa se sente mais livre e facilita na perda da timidez.

2 – Uma pessoa com timidez pode fazer teatro em qualquer grupo, ou precisa ser algum tipo de grupo específico?

Psicóloga: Em grupos que tem a finalidade especifica de perder a timidez, que são coordenados por psicólogos, ela terá resultados melhores, pois será recebida por pessoas que entendem seu problema, estará junto com outras pessoas que também são tímidas e querem vencer a timidez através do teatro.

3 – Imagino que uma pessoa tímida teria problemas no início das atividades, como ela faz para não desistir?

Psicóloga: Ela deve ter em mente que no inicio tudo é mais difícil mas com o tempo e a repetição tudo se torna mais fácil. O ser humano é altamente treinável, e treinar novos comportamentos é sempre possível.
Saber que a persistência é uma nobreza de caráter também ajuda.
Se esta pessoa estiver fazendo este curso de teatro em um grupo especifico, com psicólogos orientando, ela receberá o treino mental adequado para saber que vale a pena sofrer um pouco agora para daqui a pouco se libertar das limitações que a timidez impõe.

4 – Para ajudar uma pessoa com timidez excessiva, o teatro vale apenas pelos exercícios, ou a pessoa deve se apresentar também?

Psicóloga: A apresentação é a prova final de que ela chegou lá. Não precisa se apressar, dê tempo ao tempo e aceite que cada um tem seu ritmo.

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