quarta-feira, março 17, 2010

Sexo
Um problema de saúde pública


Saiba mais sobre o HPV, vírus que se prolifera entre as mulheres e pode causar câncer de útero


Por Ana Paula Schleier


Uma doença da qual muita gente já ouviu falar, mas que a maioria não sabe ao certo sua gravidade. O HPV – em português, papilomavírus humano – acomete mais da metade da população ao menos uma vez na vida, sendo o grande responsável pelo câncer do colo do útero. De acordo com alguns estudos sobre a doença, é provável que entre 10% e 20% da população mundial adulta sexualmente ativa tenha HPV – apesar de 1% apresentar lesões externas e 2% desenvolverem a doença no colo do útero. Os jovens correspondem à maior parcela de infectados - em mulheres com idade entre 20 e 30 anos, o índice de infecção chega a 46%. “A coisa está séria. O HPV é realmente um problema de saúde pública”, alerta Mauro Romero Leal Passos, ginecologista e autor do livro HPV: que bicho é esse? .

E que bicho é esse?

HPV - Human Papiloma Virus – é um vírus que fica nas células da pele e da mucosa, sendo capaz de causar lesões nessas áreas. A doença se manifesta mais freqüentemente em sua forma clínica, conhecida como condiloma acuminado, ou verrugas genitais. A outra forma, a subclínica, ocorre no colo do útero e só pode ser descoberta por meio do exame chamado Papanicolau.

Existem mais de cem tipos de HPV já identificados. Entre eles, apenas 30 podem infectar a região anogenital. Os vírus são classificados em dois tipos, os de baixo e os de alto risco de câncer. Os tipos 6 e 11, encontrados em grande parte das verrugas genitais, dificilmente progridem para tumores malignos, considerados, portanto, de baixo risco. Já outros tipos de HPV, como os 16, 18, 31, 33, 45 e 58, são de alto risco, podendo, assim, provocar lesões com chances de evoluir para o câncer.

Infecção e transmissão

“O risco de uma pessoa sexualmente ativa pegar o HPV durante a vida é muito alto”, conta o ginecologista. Por estar junto às células, a transmissão do vírus é pelo contato pele a pele, na maioria das vezes, por meio da relação sexual. Mas esse não é o único modo de contrair o HPV. Em casos mais raros – bem raros –, a infecção pode ser através do contato com objetos contaminados, ou até mesmo pelo beijo. As regiões normalmente afetadas pelo HPV são as genitais: vulva, ânus e pênis.

É bom lembrar que a grande maioria das pessoas que entram em contato com a doença – 75%, mais precisamente – não a desenvolve. “Para se ter uma idéia, cerca de 300 milhões de pessoas no mundo entram em contato com o vírus por ano, entretanto, em torno de 30 milhões desenvolvem o HPV em verruga”, explica o médico. Isso acontece porque a maioria das infecções é transitória – nosso sistema imunológico é capaz de combater o vírus de maneira eficiente, eliminando-o por completo.

Como identificá-lo?

Além das verrugas, outros sintomas como alteração da coloração da vagina, manchas brancas e alto relevo podem indicar a presença do papilomavírus humano. Já no colo, apenas por meio da colposcopia podem ser identificadas as lesões.

Tratamentos

Os tratamentos do HPV variam. Em alguns casos, o próprio sistema imunológico dá conta do recado, fazendo com que a doença regrida – o que ocorre em 40% dos casos de infecção. Isso acontece em casos de lesões de baixo grau, as neoplasias, por exemplo.
No caso de lesões externas, agredir as verrugas é uma forma de exterminá-las. Usar laser ou fazer uma intervenção cirúrgica com um bisturi quente são alguns dos métodos utilizados para acabar com as lesões. Já no colo do útero, o tratamento vai depender do grau da doença. Pode ser retirada apenas uma área acometida pelo vírus, assim como, em casos mais extremos, há chances de o colo todo ser removido.

Prevenção

São três as formas de prevenção contra o HPV: o uso de preservativos, a vacina e exames regulares, pois a detecção precoce permite reduzir em até 70% a mortalidade por câncer do colo do útero na população de risco. Por ser transmitido na maioria das vezes no ato sexual, a camisinha é ainda a principal arma contra o HPV. Se teimar em não optar por usar o preservativo, restam apenas duas opções: deixar de fazer sexo ou ter certeza de que a pessoa com quem você mantém relações não está infectada.

Além do preservativo, hoje existem vacinas que previnem a infecção pelo HPV. Atualmente, são dois os tipos de medicamento. A primeira vacina, a quadrivalente, oferece maior proteção, pois age contra quatro tipos de HPV: o 6 e 11, que causam condilomas e estão presentes em 90% dos casos de verrugas genitais, e o 16 e 18, de alto risco, que estão presentes em 70% dos casos das lesões no colo do útero. A segunda vacina é a bivalente, que protege contra os vírus tipo 16 e 18 – portanto, não age contra as lesões externas. “Hoje, a pessoa que é vacinada fica protegida por até seis anos”, explica Passos.

HPV e o câncer

O HPV é a principal causa de câncer do colo do útero. Anualmente, 500 mil mulheres desenvolvem a doença no mundo – no Brasil, o índice é de quase 20 mil. “Praticamente a totalidade é decorrente de um HPV”, afirma o médico. Segundo Mauro, passar por um câncer do colo do útero diminui em 26 anos a expectativa de vida da mulher. Além disso, ele é mais perigoso do que outros tipos de câncer: mata mais rápido do que o de mama, por exemplo. Mas não é apenas o câncer de colo do útero que pode ser desenvolvido a partir do HPV. Os de vulva e de laringe também são decorrentes da doença.
Os homens também não estão livres de maiores conseqüências: “mais da metade dos casos de câncer de pênis é causada pelo HPV”, afirma o médico. É importante frisar que ao desenvolver um câncer, o HPV está normalmente acompanhado de outros fatores, como o fumo, outras infecções genitais e muitos parceiros durante o ano. “O HPV é o causador, mas raramente está sozinho”, afirma Mauro.


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